terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ano Novo: o estouro da ilusão e da verdade



Estamos pertos de mais um Reveillon, mais um ano que vai passar, mais algumas páginas da história... a nossa, a deles, a de todos nós; juntos e separados. Não sei por que, mas temos a estranha mania de depositar doses extras de esperança no Ano Novo. Parece que é o abono pelos nossos erros, o perdão de não ter feito o que queríamos no ano que está acabando. Confortável, não?

Vamos imaginar que não houvesse calendário e que a contagem do tempo fosse apenas por, sei lá, pôr-do-sol. Toda a nossa noção de longevidade se resumiria ao pôr-do-sol, tudo seria dia a dia, nossos objetivos seriam mais curtos e nosso tempo de realizá-los também. Nossa urgência aumentaria, nossas banalidades diminuiriam e o ritmo de vida poderia ser bem maior.

Longe disso, pois o calendário está aí de qualquer forma, vamos retomar o raciocínio da fé no próximo ano. Se pudéssemos olhar o Ano Novo como apenas mais um dia, o que aconteceria com as nossas vidas? Continuaríamos errando o que vínhamos errando o ano inteiro? Não ganharíamos o combustível para fazer as mudanças necessárias? Mas, e se o efeito fosse oposto? E se deixássemos de empurrar as mudanças para o próximo ano e fizéssemos imediatamente quando surgisse a sua necessidade? E se o pretendente pedisse a amada em casamento hoje e não em 2011? E se o pintor fizesse a sua mais bela obra hoje? E se o voluntário cuidasse hoje dos necessitados... e não só no ano que vem? E se o músico compusesse a sua melhor canção hoje? E se os políticos implantassem o plano perfeito hoje e não deixassem para o próximo mandato?

E por que não estourar uma champagne hoje e comemorar sua felicidade, sua vida, suas conquistas na hora que der na telha? Para o bem ou para o mal, prefiro que venha logo o que tiver que vir! Quero as emoções imediatas! Não quero deixar para depois o que posso viver agora! Experiências requentadas não me interessam! Proponho as mudanças já! Proponho os planos verdadeiros ao invés das ilusões que as promessas de Ano Novo criam! Proponho um feliz 2011 em todos os seus dias porque é assim que tem que ser! Todos os dias. Todos os dias.

Parabéns aos vitoriosos! Coragem aos que ainda não venceram; o tempo não acabou! Usem o Reveillon para se divertir, que é o grande lado bom disso tudo!

Até 2011!




quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Do Rock e a idade... dos roqueiros



(Foto: Blog do Janga)

O princípio do rock deve remeter ao final dos anos 40, início dos 50 com artistas como Arthur Big Boy Crudup, Little Richard, Chuck Berry... essa turma. Farei um apanhado especial do rock a médio prazo, mas hoje não é disso que vou falar. Vou falar de um tabu antigo: a idade para se fazer rock. 

Não é de hoje que os ídolos do rock são jovens. Conhecemos e temos muitos ídolos já de meia idade ou até mesmo velhos, mas difícil é ver alguém que tenha feito sucesso nessa fase. Nesse ponto não é de se espantar. Vamos comparar com outro mercado qualquer: você deve conhecer gerentes, executivos, presidentes de empresa e afins de idade avançada. Agora, veja se é comum uma pessoa aos 40 entrar para o mercado em algum desses postos. Não. Não rola. Quem chega na hora certa, se mantém pelo tempo que for, mas novatos fora do padrão, estão fora! 

Eu aceitaria isso se não se tratasse de música, arte. Sou extremamente contra esses tipos de regras para a arte. A industrialização da arte me enoja! Hoje em dia, então, aqui no Brasil, com essa onda “teen rock” que o dito “Happy rock” trouxe, está cada vez pior. Os adolescentes são os maduros para o rock e, sei lá, músico que passou dos 18, está começando a ficar velho! O que é isso?? 
 
Outro dia assisti uma entrevista do Dinho (vocal do Capital Inicial) onde, revoltado, dizia que parecia que agora era proibido adulto tocar rock. Que absurdo! Como o mercado musical pode estipular idade para o rock quando temos no mercado, ao mesmo tempo, um show desses novatos lotando tanto quanto Paul McCartney, Rolling Stones...?? Hoje você observa artistas do rock entrando em desespero quando chegam aos 30 porque a censura não declarada os assombra! Alguns correm para a MPB, Samba, Folk... outros resistem e voltam a ter público de volume underground... e o cenário musical perde bons talentos!

Não esqueçamos que Cazuza brilhou em carreira solo já aos 25 (ou algo em torno disso). Raul o fez já na casa dos 30. Lenine já apareceu no mainstream adulto. Nirvana estourou passados dos 20; Pearl Jam também. Beatles estourou com os integrantes jovens, mas foi na maturidade que fizeram suas melhores músicas. 

A arte não pode ter censura. Ela é livre por natureza. Se não for, não é arte. Que toquem os adolescentes, sim! Mas que toquem também os adultos, os coroas, os velhos, até. Por que não? Que a inspiração nos traga as mais variadas opções, os mais loucos sons, o mais amplo (e amplificado) Rock and Roll! Viva a arte! A arte em si!

Em homenagem a este post, encerro ao som de Jethro Tull. Prestem atenção na irônica letra. 


Um bom dia a todos!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Um intervalo inexistente


(Foto: Getty Images)

Existe um ambiente que pode ser enriquecedor ou fútil para a vida: bar. As conversas que surgem dali podem ter qualquer natureza. Comigo, costumam oscilar por todos os universos, mas foi justamente numa dessas que surgiu a inspiração (e percepção, ainda mais) para o assunto que vou falar.

Nessa era de Twitter e redes sociais em geral a gente acaba tendo mais acesso, para não dizer invadindo, a vida das pessoas ditas celebridades e é comum ouvirmos falar dessas pessoas “tirando um tempo” para cuidar de assuntos pessoais, ou para organizar a vida, etc, etc, etc. Muito legal, muito lindo... mas muito cor-de-rosa para a rotina de nós mortais. Andava me sentindo assim, atolado de coisas, acumulando uma série delas para fazer quando tivesse um tempo. E realmente acreditava que esse tempo viria, mas afinal de contas: quando seria isso? Não seria. Era a mais pura ilusão. Até gosto de fantasiar e me iludir, mas essa é outro tipo, é a ilusão ruim. A minha rotina não mudará, as minhas obrigações não mudarão, então, é preciso achar um tempo para isso.

Agora vamos trazer isso para o universo musical e falar dos undergrounds: esqueça o discurso de quando tiver tempo vai gravar isso, do jeito tal, ensaiar de tal forma... a menos que você seja da turma dos undergrounds que tem tempo livre (não precisa trabalhar durante o dia ou estudar ou os dois para só depois pensar em tocar), esse intervalo de tempo não vai acontecer. É tudo acontecendo ao mesmo tempo e, hoje em dia, parece que o tempo voa mais do que antigamente. (Teriam os relógios sido acelerados?) O caminho: vai demorar mais, mas faça as coisas aos poucos e com freqüência maior do que o idealizado a princípio. Isso vai garantir que “o barco ande” e, embora demore mais, o ideal vai se concretizar.

Nós brasileiros temos a educação cultural de deixar as coisas para depois, para quando der tempo. Essa ilusão só vai prejudicar a você mesmo. O tempo não se preocupa com os sentimentos, os sonhos, os desejos alheios. O tempo, simplesmente, passa.

Reflexão, mudança, ação.






sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Do Natal e a bondade de vitrine


(Foto: Getty Images)
Estamos próximos do Natal, próximos do fim de ano. Nessa época é comum as pessoas fazerem o chamado “exame de consciência”. Não que isso o seja de fato, mas ao menos buscam listar uma série de coisas que querem mudar na vida para o ano que chegará. Até aí, tudo bem; no país do “deixa para amanhã”, ter um pretexto para adiar ao ano que vem tudo aquilo que você viu durante o ano que precisa mudar, é providencial! Este não é o problema. O problema começa quando a mídia decide que é hora de lucrar com o apelo ao exame de consciência coletivo e aí começam as bondades obrigatórias. 

Didaticamente, o espírito natalino toma conta das pessoas quando a primeira propaganda da Coca-Cola é exibida. Ou de algum shopping. Ou coisa do tipo. É tanta propaganda impondo que sejamos bondosos no fim do ano que eu me pergunto: uma vez por ano basta? Parece aquela anistia à moda “santa inquisição”: se confessar, está perdoado. Então, em dezembro, decidimos que precisamos ser bonzinhos uns com os outros, pacientes, tolerantes e a mídia massifica isso tanto que contrariar essa onda soa a constrangimento.

Eu não tenho nada contra a compaixão, a solidariedade... muito pelo contrário. Acho ate legal que pelo menos uma vez ao ano as pessoas parem para pensar nessas coisas, no próximo e tal. Só é meio ridículo que isso seja completamente ignorado por muitos no decorrer do ano. Proponho a inversão: façamos do ano inteiro um Natal e tiremos um dia para a escrotidão inescrupulosa! Seria engraçado. E os benefícios seriam maiores. Vamos, sim, ajudar a quem precisa! Vamos, sim, respeitar o próximo! Vamos, sim, nos importar com o sentimento alheio e desejar a felicidade dos que nos cercam... mas constantemente, espontaneamente, verdadeiramente. Não preciso que a televisão diga o que eu tenho que sentir. 

Bondades com hora marcada soam a hipocrisia e isso me irrita! Agora tem algo que me irrita tanto quanto: quem foi que intitulou Ivan Lins e Simone como trilha sonora oficial de dezembro??? Putz! Até prefiro as propagandas de doutrina natalina a ouvir rádios populares nessa época do ano! E se for uma propaganda com trilha sonora de Ivan Lins? Nãããããããoooo!!

Um bom Natal a todos e que o espírito natalino nos ensine coisas boas! O verdadeiro espírito natalino! Compreensão, sinceridade, respeito.

E, para encerrar, música de Natal: Joe Perry tocando Run Rudolph Run de Chuck Berry






terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O espetáculo do terror e os gritos do povo



(Foto: "The Smoking Gun", Getty Images)


Retomando hoje as atividades no Out of the Box e através do próprio post, o motivo da minha ausência. O que acontece é que momentos de turbulência na cidade acabam me tomando muito tempo no trabalho (o do mercado formal) e isso impacta diretamente no meu tempo para o blog e a música em geral. E, para quem acompanhou as notícias, foi um período bem agitado aqui pelo Rio. Exatamente por isso, aproveito para pedir licença aos deuses da música e postar grandes parênteses no blog; vou falar, brevemente espero, da minha impressão disso tudo que aconteceu.

O que acontece no Rio é que há muitas favelas. Essas pessoas das favelas sempre viveram oprimidas, marginalizadas pelos traficantes E pelo governo. Aí criaram o programa de pacificação das favelas, uma grande máquina de locomoção de bandidos. Sim, porque o tráfico não está acabando! O que estão fazendo é desestabilizar os traficantes por algum tempo, apreendendo algumas armas e drogas, e forçando-os a procurar outro “QG” para eles. Ok. Não acho de todo mal, desde que houvesse um plano de ação conjunto a isso para prender de fato esses que fogem e para impedir as drogas de chegar aqui.

Essa guerra ao tráfico que todos divulgaram nas mídias não é fruto de uma ação planejada do governo (infelizmente), mas é motivada por um fato simples: a violência e terror que sempre (SEMPRE) aconteceram na favela chegaram ao asfalto! Chegaram perto da elite! Aí preocupou o governo a ponto de forçar uma invasão numa das maiores favelas do Rio. Os moradores honestos desses lugares sempre estiveram gritando por uma atitude dos nossos governantes! Sempre precisaram disso, mas jamais foram ouvidos! E essa é minha revolta! E este é o motivo do meu protesto! E esses moradores, ainda humildes, davam entrevistas agradecendo a polícia e tal... mal sabendo que não foi por eles, mas pelo jogo político entre governo e elite.

Parabéns, policiais e militares! A ação em si, foi boa, sim. Só lamento que tenha sido necessário chegar a este ponto para que as ditas autoridades tomassem uma atitude enérgica. O Rio já está gritando por isso há muito, muito tempo! O Brasil inteiro na verdade! Gostaria que isso servisse de lição de verdade e não fosse apenas um espetáculo televisivo.

Boa sorte para todos nós!