segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Conexões Esquisitas: avanços emulados e prazeres originais

(Foto: Blirk.net)
 
 
Outro dia estava passando pela rua em direção ao ponto de ônibus e tinha um bicheiro próximo a uma banca de revista. Eu não sou chegado em jogo do bicho; na verdade, eu até hoje não entendo nem como funciona, não entendo as regras mesmo. De qualquer forma, acho interessante que o tal do bicheiro faça seus registros e anotações em um papel comum, escritos à mão mesmo. Isso já deve ser assim há gerações! Fiquei imaginando como seria um bicheiro hi-tech que, ao invés daquele bloquinho de papel, usasse um laptop ou iPad? A tecnologia não chegou a tudo no mundo.

Trazendo para o mundo da música, situações semelhantes acontecem. Hoje em dia temos tantos efeitos, tantos recursos digitais e ainda assim, o velho jeito de se tocar parece ser o mais empolgante para o público! Basta ver a reação de espanto que as pessoas têm ao saber, por exemplo, que um determinado ídolo usou playback no show. Tudo bem que esse é um recurso muito mais comum do que se divulga, mas ainda assim, ninguém gosta de saber que assistiu a um show onde o cantor(a) não cantou de fato! Hoje em dia ainda tem mais recursos para piorar a situação: “afinadores” de voz como Autotune e Melodyne são cada vez mais comuns no mercado musical. “Soltando o veneno”, muitos ícones pop de hoje, apelam para essas tecnologias a fim de garantir um desempenho melhor ou apenas por precaução mesmo.

À parte disso, existem “n” emuladores de instrumentos musicais que podem substituir os reais instrumentos para se fazer uma gravação. Quem lida com home studios sabe que é muito possível gravar uma música sem pegar um instrumento musical de fato; apenas com emuladores, samplers e softwares virtuais. Não sou contra nada disso. Acho que a tecnologia tem mais é que servir para atender as nossas necessidades mesmo! As únicas tecnologias que eu veto veementemente são as bélicas, porque são irracionais mesmo... fora isso, tá valendo. Agora, é estranho eu imaginar, por exemplo, um mundo sem violão!

Por mais programas de computador que existam, jamais vão substituir o prazer musical de pegar um violão ou uma guitarra (ou o seu instrumento favorito) e tocar de verdade! Tirar um som deles de verdade! Quando joguei aquele tal de Guitar Hero eu já achei estranho pelo fato de estar tocando uma guitarra de botões! Imagina se me dissessem que à partir de agora eu nunca mais tocaria guitarra porque está ultrapassada e já existem samplers que a dispensam? Não! Jamais!

Acho que tem coisas que realmente não devem morrer! Se você não concorda comigo, então, aproveita e faz uma campanha pros donos do bicho darem um notebook para os caras que tomam do ponto, porque ficar anotando na mão grande todas as apostas é sacanagem! Brincadeiras de lado, foi só mais um devaneio que me levou a pensar o prazer de coisas simples que nunca deixarão de existir na música.

É isso.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cheiro de giz

 


Tem vezes que acordo com uma música distante na cabeça. Explico. Não é surpresa você ficar com uma música na cabeça quando existe um contexto para isso. Ou você está ouvindo ela com freqüência, ou ouviu na rua enquanto estava fazendo alguma coisa e, sem perceber, seu cérebro ficou assimilando aquela música para, depois, reproduzi-la incessantemente na sua cabeça... enfim, tem vários motivos. Acontece que, algumas vezes, eu ressuscito alguma música na minha cabeça que há tempos não ouço. E de uma dessas que falarei um pouco hoje.

Eu sei que muita gente não agüenta nem ouvir falar no nome mais. Eu acho até que é uma espécie de reação contra o sucesso que rola. Sempre que alguém faz um sucesso estrondoso, não tarda para começar a surgir opiniões que denigrem ou tentar derrubar a pessoa. De qualquer forma, alguns rótulos de gênios musicais são inegáveis. Não dá para ignorar a grandeza de artistas como Cazuza, Rita Lee, Raul Seixas e Renato Russo, por exemplo. A Legião Urbana fez grandes musicas, mesmo a mídia tendo massacrado e banalizado o seu som. Uma pena.
 
Renato Russo, Legião Urbana.
Dentre elas, e eu não sei o grau de sucesso que a música fez, eu tenho em Giz a minha preferida. É uma música simples, frágil e forte ao mesmo tempo. Arrisco dizer que esse tipo de letra era o dom mais forte do Renato Russo. Essa música me remete sempre a um momento de lembrança. Quando ouço sua letra é isso que imagino: um momento de lembrança, um momento saudoso. Parece um momento triste que marcou, mas que, com o tempo, virou uma lembrança bonita, ainda que triste, bonita. Tranquila de se conviver. A subjetividade marcante da Legião Urbana atingiu uma justa medida platônica nessa música, totalmente em harmonia com a simplicidade das ilustrações que ela faz. As músicas da Legião normalmente tinham um ponto forte: ou muito subjetivas, ou muito românticas, ou muito rebeldes... Giz, a meu ver, é um equilíbrio dos pontos, o que faz dela a melhor canção deles na minha opinião.

Se for para ter “música chiclete” na cabeça, agradeço por ser desse nível. É sempre saudoso relembrar tempos de áureas músicas no rock nacional.

Uma boa quarta-feira a todos!



 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O imperceptível fim do mundo



No ano passado, num post, soltei o verbo sobre as notícias incabíveis que estampam os jornais de hoje (se não leu na época, clique aqui). E fico triste e revoltado por ver que isso não mudou em nada. Essas notícias estão até mais freqüente. Mortes banais. Assassinatos banais. Em família. Por motivos ridículos que, outrora, não gerariam nem uma briga “porrada” de irmãos. E hoje, as pessoas se matam. Por uma conta de restaurante, a pessoa que se sente lesada acha que a pena para quem o aborreceu é perder a vida. É nunca mais abraçar o filho. Nunca mais ficar com a esposa. Nunca mais ver um pôr do sol. Nunca mais sorrir. E, paralelo a isso, todos que estão em volta dele, continuarão a pagar a pena com o sofrimento e a saudade porque o dono do restaurante fez uma reclamação com um cliente descontrolado, marginal, podre. Isso não pode ser verdade.

Uma menina poderia namorar. Ter conflitos emocionais. Ter inseguranças. E, enfim, como um rito de passagem, teria sua primeira vez. Ou, sem namorar, curtindo um momento feliz. Mas é uma genial ideia fazer de uma fase da sua vida, uma fonte de renda. E ela decide leiloar sua virgindade para que uma pessoa qualquer, apenas com muito dinheiro, seja o dono desse momento. Seja antigamente ou hoje em dia, o nome disso é prostituição. Nada contra. Cada um faz o que quer da sua vida. Mas me assusta essa menina ser uma das celebridades mais comentadas, com mais espaço na mídia do que muitos outros talentos que mereciam... talentos de verdade. Notícias de verdade.

Ninguém deveria estar pagando milhões para tirar a virgindade de alguém. Relações não deveriam ser vendidas. São necessidades fisiológicas, emocionais, sociais. Não precisam ser um negócio. Ninguém deveria estar pagando milhões para alguém fazer a barba ou cortar os cabelos. Isso é higiene pessoal. Não precisam ser um negócio. Quem precisa de investimento de milhões é quem está passando fome, quem está sem remédio, quem está sem escola. Essas são notícias que valem milhões. Em vez de fazer um programa de leilão de virgens, faça um programa de arrecadação de fundos para quem precisa de verdade.

Se todos os aspectos da vida estão banalizados ao extremo, isso talvez signifique alguma coisa. Se a vida não vale mais nada (não foi por 7 reais que alguém morreu outro dia?), se vale tudo para ganhar dinheiro (e da maneira mais fácil possível), se qualquer conteúdo (ou falta dele) é digno de fama, se os sentimentos viraram démodé, babaquice ou fraqueza... então, talvez os profetas estivessem certos e o mundo tenha realmente acabado em 2012. E o homem, tão preso nos holofotes e futilidades que criou, foi incapaz de perceber a catástrofe que aconteceu bem diante do seu nariz.