sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dos acústicos e unpluggeds e a alma nua do rock



Nirvana na gravação do MTV Unplugged in New York, 1993.


Tem muita gente que não gosta, que acha que falta algo, mas eu devo admitir: sou um adorador de acústicos (unpluggeds) de rock! Acho que nesse tipo de projeto ou show ou qualquer coisa que queira chamar... é possível sentir a alma das músicas e, ainda mais, dos músicos! Não que eu não goste das versões originais e com efeitos; eu gosto, mas talvez a simplicidade dos acústicos me faça experimentar um tipo de sensação diferente e que muito me agrada. Como acredito que o rock é muito mais cultura do que efeito sonoro, a falta das distorções e efeitos carregados não me faz desanimar. Eu apenas entendo que é uma forma diferente de se ouvir a banda.

A onda de gravar acústicos no meio rock foi promovida pela MTV e, como deu certo, esse projeto foi durando anos e sendo feito com diversas bandas. A primeira banda a gravar um MTV Unplugged foi o Squeeze, em 1989. Aqui no Brasil, embora muita gente diga que foi o Barão Vermelho quem gravou o primeiro Acústico MTV, o inaugurador do projeto foi Marcelo Nova, que fez o programa piloto. Ele já vinha fazendo uma turnê acústica na época em sua carreira solo e, por isso, foi convidado pela MTV para testar o formato. No ano seguinte, foi a vez da Legião Urbana gravar aquele que talvez tenha sido o mais simples já feito até hoje! Foram usados 2 violões e percussão. Bem básico, mas quem conhece sabe: foi uma grande obra!
 
Gravação do Acústico da Legião Urbana, 1992.

Aqui no Brasil, o Acústico MTV ficou conhecido por um tempo como o ressuscitador de bandas, já que os Titãs voltaram ao topo das paradas por conta disso. Claro, esse acústico é, sem dúvida, um dos melhores discos deles e, na minha opinião, um dos melhores acústicos que a MTV brasileira já produziu! Além deles, Capital Inicial ressurgiu por isso e até o Kid Abelha também. Aliás, o Kid Abelha conseguiu a façanha de ter o acústico mais vendido da história no Brasil! Confesso que não sou muito fã deles e prefiro outros como Legião, Titãs, Capital e Cassia Eller, mas é um bom disco, sim. Falando em termos internacionais, quem mais vendeu unplugged foi R.E.M, seguido por Eric Clapton. E, diga-se de passagem, vendagem super merecida! O álbum é muito, muito bom!
Sendo sincero, eu não saberia dizer qual o melhor acústico ou unplugged gravado até hoje. Nem mesmo se dividisse em categoria nacional e internacional, eu saberia escolher um em cada. O que eu gosto mesmo é de sentir o clima de “roda de violão”, o clima de tom menor que essas obras proporcionam, como se fossem momentos mais intimistas com as bandas. E é ali que a qualidade e a sintonia da banda afloram ainda mais! É como ouvir a banda sob outro prisma. Em resumo, uma faceta a mais para se fazer arte no rock! Tentando listar meus favoritos, vamos lá (top 5):
 
Nacionais:

1. Legião Urbana
2. Capital Inicial
3. Cassia Eller
4. Rita Lee
5. Lulu Santos
 
Internacionais:

1. Nirvana
2. R.E.M.
3. Pearl Jam
4. The Cranberries
5. Korn
 
Internacionais foi bem difícil! A única vantagem, se é que se pode chamar assim, é que alguns clássicos eu não cheguei a ver/ouvir. Pretendo, mas sei que isso vai tornar ainda mais difícil ranquear uma lista. Eu sei que o Nirvana foi bem tendencioso, já que é uma das minhas bandas favoritas, mas ainda assim foi uma obra bem gravada, um repertório inesperado, para os padrões dele, e uma performance igualmente diferente para eles. Pearl Jam foi mais parecido com o que eles sempre se apresentaram, mas Vedder, ao invés se estar mais comedido, como era de se esperar, estava cantando de forma muito intensa e fez um trabalho excepcional! Cranberries não decepciona nunca e fez um material infalível e emocionante! R.E.M, como já falei, é merecedor de ser o mais vendido porque o acústico da banda é muito bem produzido, muito bem executado, bom de ouvir mesmo! O do Korn, quem não conhece, recomendo muito! Mesmo quem nem seja fã deles (como eu não sou) vale a pena conferir! É carregado de energia! Muito bom!
 
Por hoje é só! Obrigado a quem curtiu! E viva o rock, em todas as suas formas!




 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Time is (not) money

 
(Foto: Storenvy)
Quem sabe não seja esta uma das frases mais influentes que os americanos já divulgaram: Time is money! Ou talvez tenha virado um grande jargão. Não sei se é real, mas a frase é atribuída a Benjamin Franklin. Dentro dessa rápida frase, um grande mar de elementos da vida humana: a pressa, o foco, a prioridade, a ganância, o trabalho...
 
Tempo não é dinheiro. Tempo não custa dinheiro. Se custa, não é pelo tempo, mas pelo homem. E essa frase é usada para muitas coisas, mas, tem bastante efeito quando o motivo é sugestionar alguém a fazer seu trabalho com pressa (e, quase sempre anexo, sem pensar) ou quando a ideia é cobrar por tudo o que se faz. É o álibi verbal para a ganância. E, em meio a isso tudo, eu me pergunto: se o tempo não deve ser desperdiçado com nada, se não o que dá dinheiro, certamente alguém não avisou isso a Thomas Edson quando ele perdeu horas e horas e horas na questão da eletricidade sem sequer saber no que isso resultaria. E esqueceram também de avisar Einsten quando perdia momentos homéricos em sua sala ou embaixo de árvores (onde gostava de escrever) desenvolvendo suas teorias físicas, também sem ter um propósito específico de lucro.
 
Tempo não é dinheiro. E é um equívoco quase blasfêmico reduzir uma condição existencial de tamanha proporção como o tempo a uma mera invenção humana. Há tempo para se ganhar dinheiro, mas há tempo para não se ganhar também. Ferramenta é ferramenta e máquina é máquina. Dinheiro é objeto, não é objetivo. É meio para alguma coisa. Não é a coisa em si. Não há nada de mal em ganhar dinheiro, mas o homem deveria ter cuidado para não passar a vida inteira atento a ganhar dinheiro a ponto de deixar a vida passar e acabar perdendo... tempo! Então, agora, dá para entender que “Time is not money”. E por essa lógica final, contrariando Benjamin e os tayloristas, o tempo não custa dinheiro, mas, sim, o dinheiro custa tempo. O tempo? Ah, não menospreze o tempo! Ele nada tem a ver com as nossas questões. Como já disse em um antigo post, o tempo não está preocupado com as questões humanas, com os anseios, com os desejos, com os sonhos, com as frustrações. Haja o que houver, o tempo simplesmente passará.
 
Em desculpas a Mr. Franklin, encerro o texto.
 
 
 
 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Kurt: o claro som do grunge

 
 
 Hoje faz 19 anos que Kurt Cobain partiu deste mundo. Há 2 anos escrevi um post em homenagem a ele (se não leu na época, clique aqui), mas acho que nunca chegará um dia no qual não se tenha nada mais a falar. Hoje vou comentar curiosidades de uma situação específica: um dos shows que considero mais talentosos do Nirvana... e atípicos também – O MTV Unplugged, gravado em 1993, New York.

Deve ter sido estranho para quem estava acostumado a pular e agitar ao som do Nirvana, de repente, assistir ao show deles sentado. Aliás, eles estavam sentados! E sem guitarras. Bem, sem guitarras não exatamente, mas tocando de uma forma muito mais limpa que o de costume. E a característica mais marcante do grunge (a distorção) não se fez presente, embora eles tenham usado alguns efeitos menos sujos. E é por isso que eu sempre falo que o grunge não é um estilo de tocar, mas um movimento cultural do rock; mas isso é papo para outro dia. Enfim, o que algumas pessoas não sabem é que esse show quase não acontece. Kurt estava sumido da banda há dias e faltou a quase todos os ensaios marcados. Dave Grohl, então, assumiu a liderança da banda e coordenou os ensaios mesmo sem o Kurt presente.

Quando os executivos da MTV já não acreditavam mais que iria acontecer, Kurt aparece a menos de uma semana da data da gravação, com um repertório completamente diferente do que a banda estava ensaiando. Não é a toa que quase metade do setlist é composta de covers. E eu sei que deve ter sido uma merda para a banda, mas a escolha do repertório de Kurt foi genial! E o disco é um dos melhores acústicos que eu já ouvi (embora reconheça que é tosco em muitas partes, mas isso também é arte). Curiosamente, enquanto Kurt estava ausente, surgiram músicas como Monkey Wrench e Everlong (se não me engano sobre esta) que depois viriam a se tornar repertório do Foo Fighters, sob comando de Dave Grohl.
 
 
Outra curiosidade: ao contrário do que se falou na época, Kurt não foi indiferente ou arrogante com a platéia, mas estava, sim, extremamente nervoso por 3 motivos: 1 – nunca a platéia esteve tão perto dele após o sucesso do Nirvana; 2 – ele próprio estranhou a reação das pessoas por estarem comportadas demais, sentadinhas e tal; 3 – tinha medo de errar as músicas pelo pouco ensaio que houve, fato provocado por ele próprio, claro, devido às ausências. Inclusive, Kurt tocou Pennyroyal Tea sozinho não porque era o programado, mas porque a banda não teve tempo de ensaiar em conjunto aquela música. Se puder assistir o bruto do vídeo do unplugged, é possível ouvir Cobain perguntando ao Krist se era para ele tocar a música sozinho, onde Krist responde, meio indeciso, que “sim, sim, é melhor você tocar sozinho”.

Aos trancos e barrancos, o MTV Unplugged do Nirvana aconteceu... graças a Deus! Os fãs agradecem. E mesmo mal ensaiado, a performance da banda estava enérgica como sempre. Não agitada, claro, mas cheia de arte! E é isso que sempre fará falta ao mundo do rock: a arte de Kurt.

Sempre, salve Kurt Cobain!