terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Da censura e seus (a)braços


(Foto: Blog Libera No Domine)
 
 
Não sei exatamente quando começou a censura na humanidade. Provavelmente, a censura e a humanidade sejam irmãs gêmeas. De qualquer forma, houve um tempo em que a censura ficou em evidência no país. Quem tem pelo menos 30 anos lembra do cheiro longínquo da Ditadura. Quem tem mais de 30 anos, saberá até citar muitos exemplos. Na verdade, lembro de ter visto algumas capas de disco com o adesivo “censurado”, que proibia certas músicas de serem veiculadas em rádio ou TV, como Faroeste Caboclo, por exemplo.

Esse tipo de censura foi abolida... oficialmente. Ainda tem muita censura rolando por aí. Admito ser a favor da censura de idade. Realmente, tem coisas que a mente infantil não está preparada para assimilar de forma completa e razoável. E algumas informações mal processadas podem destruir a saúde mental de um futuro adulto. Só que essa censura, e nem as outras, foram as piores. O que elas plantaram foi muito pior: a censura que nós fazemos. A censura de grupo, por exemplo, é uma das mais bestiais. Basta ter um grupo de pessoas tímidas, por exemplo, a testemunhar atitude de um grupo de pessoas extrovertidas e já se estabelece uma censura, como se o certo fosse a atitude dos tímidos (ou vice-versa). E daí, segue-se preconceitos e adendos.

Vamos combinar uma coisa: certo e errado são conceitos, dentre milhões, que são relativos! Relativos! Até hoje ainda existe uma censura coletiva absurda, principalmente, nas mídias. Elas estão abolindo aspectos lúdicos da ficção... por serem considerados errados! Alguém, por acaso, percebeu que os bandidos pararam de “vencer” nos filmes, novelas e seriados? Alguém percebeu que os mocinhos não comem mais junk food ou mesmo são gordos? Exceto, claro, quando o enfoque é psicológico (mostrar que as pessoas valem por dentro ou que é possível vencer obstáculos e coisas do tipo). Quando começaram as campanhas contra o cigarro, o que eu acho que tem que ter mesmo (é informativo), os heróis pararam de fumar na TV. Os bandidos sempre fumavam. Hoje em dia, nem eles. E ainda acham que a censura foi vencida porque já se pode exibir beijo gay nos programas e filmes! Se fosse simples assim! Deuses, são obras de ficção!! E estamos podando a liberdade de criação porque depositamos na TV o papel de... educar?? Eu sei que tem pessoas influenciáveis, mal instruídas e que tomam essas coisas como exemplo, mas o erro não está na TV, o erro está na educação dessas pessoas! É isso que tem que ser remediado!

Então, vocês estão percebendo que a censura é uma arma para tapar o sol com a peneira. É mais fácil censurar o que está chamando a atenção, do que corrigir o que está errado. Dá menos trabalho. É mais fácil censurar o próximo, do que assumir que você precisa melhorar ou mudar.   No fim, os grandes absurdos do nosso dia a dia estão sempre ligados a educação, que sangra calada por anos e anos e anos de história humana. Mas isso é papo para um outro post. Se já estão pensando a respeito de todas essas maluquices reais que citei, essa era a ideia!

Um bom dia a todos!

 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quando o Carnaval é Rock (ou vice-versa)



Lu Barataz, vocalista do Bloco Cru
 
 
Tardiamente, hoje vou falar sobre o Carnaval. Queria ter escrito este post logo após o mesmo, mas não deu. Tudo bem, tudo bem, eu sou uma pessoa enrolada, mas isso não altera a ideia, que é o que importa aqui no Out of the Box, no final das contas. Enfim... muitos roqueiros normalmente não gostam de Carnaval. Acham uma festa babaca com música ruim. Devo admitir que discordo dessa visão. Eu costumo gostar de quase todos os movimentos populares e o Carnaval é genuinamente um deles. Eu sei que hoje a indústria tomou conta em muitos lugares e tal, mas a origem é popular. E sem as pessoas, afinal, não existe Carnaval. Eu acho que pessoas combinam estando juntas, em mutirões (fora os idiotas que sempre arrumam confusão). Quando estão com a mesma energia, a sensação é indescritível. Quem já presenciou isso, sabe do que estou falando. Não precisa ser Carnaval ou grandes festas. Em shows (de qualquer tamanho) isso rola com freqüência.

Bem, especificamente no Carnaval, eu acho a ideia da festa legal. A música não era normalmente do meu gosto, confesso, mas a diversão das pessoas e o grupo no qual eu estava nessas situações compensavam. E sabem o que sempre percebi? Quando o Rock entra no circuito musical, mesmo quem não é roqueiro, se anima com o som! No Rio de Janeiro, onde moro há alguns anos, pude assistir shows dos blocos de rua que tocavam rock. Um deles, inclusive, era só de músicas de Raul Seixas; o nome era Bloco Toca Rauuul. Há outro que foca em músicas dos Beatles, cujo nome é Sargento Pimenta (alusão ao nome do disco, Sgt. Peppers). O interessante, nesses casos, é que fazem adaptação dos rocks para o estilo “marchinha de Carnaval”, que é o estilo tradicional do Carnaval de rua carioca. Há um terceiro bloco, o Bloco Cru, que usa bastante as guitarras distorcidas, mas sempre faz presente a percussão das marchinhas, criando um estilo bastante interessante de se tocar. Lógico que, por deixar presente os elementos clássicos do rock, eu gostei mais desse bloco, mas todos os outros que citei são bons também.
 
Bloco Toca Rauuul
E lembro em tempos mais saudosos, quando morava ainda em Salvador, de estar curtindo o Carnaval de rua lá, onde o domínio absoluto do estilo musical era o Axé Music, e sempre em determinado ponto do circuito algumas bandas, a exemplo de Asa de Águia e Jammil, paravam o trio elétrico e tocavam algum clássico de rock. E era engraçado ver as pessoas renovarem as energias a este som. Pessoas que diziam que não gostavam de rock, pulando animadas, cantando as músicas. Roqueiros que estavam lá para curtir, conformados de serem peixes fora d’água naquela festa, agitarem por, de certa forma, se sentirem incluídos naquele movimento. Esse ponto determinado que falei era conhecido por ser o point da galera mais alternativa (mas nem tanto). Naquela época (finais dos anos 90, início dos 2000) era assim. E começaram em seguida a ter trios elétricos com bandas de rock e pop também. Era o rock “invadindo a praia” do Carnaval de vez. Lembro de ter visto um bloco cuja banda era O Rappa. No mesmo ano, se não me engano, a banda underground Canal Zero puxou outro trio, tocando grandes clássicos do rock o circuito inteiro. E nada disso descaracterizou o Carnaval de lá. Ao contrário, o enriqueceu e deu aquela gostosa ilusão de Carnaval democrático. Sim, ilusão. Sabemos que sempre foi. As pessoas às vezes gostam do pão e circo. Como já falei antes, o pão e circo não é problema se você tiver a consciência dele.

 

Então, galera do rock, se o motivo da repudia ao Carnaval for pela música, saibam que o rock sempre tem o seu espaço. Ou o conquista na marra. Essa é a essência do rock e isso é o que o faz ser o estilo de música mais psicocultural que existe. Se for tendencioso o que falei, pode ser, mas é real para muita gente.

Encerro o post com um vídeo do Bloco Cru, que citei acima. Valeu!