sexta-feira, 12 de julho de 2013

Conexões Esquisitas: quando as regras falham


Billy Corgan em show do Smashing Pumpkins, Madri, 2011. (Foto: Getty Images/Uol)


Estava assistindo no último fim de semana um filme que acho bem engraçado, a animação Despicable Me 2 (Meu Malvado Favorito 2, na tradução feita). E é interessante como muitos elementos do filme são racionalmente engraçados, mas uma das atrações do filme, os bichinhos chamados Mínions, são hilários sem motivo certo! São simplesmente engraçados! Se os textos ou cenas fossem os mesmos para outros personagens, provavelmente, não funcionariam tão bem! E funcionam. Aí, pensei em como isso ocorre tanto na música também. Quantos artistas conhecemos que tinham tudo para morrer na praia, mas dão certo? Ou, pelo menos, simplesmente não sabemos por que apreciamos tanto suas músicas sendo que é inexplicável a sua qualidade? Acontece.


Anos 90. Todo mundo caiu nas graças de uma banda chamada Smashing Pumpkins. Eu gosto. Muita gente também gosta. Agora, sejamos sinceros: por que diabos admiramos o Billy Corgan se ele tem uma das vozes mais irritantes de se ouvir? E na verdade, não é irritante! Vai você cantar daquele jeito pra ver se alguém suporta! Claro que não. É a química inexplicável que o Billy tem que o fez dar certo como cantor. Quem dirá o contrário?
Janis Joplin (Foto: Seventies Music)

Vamos voltar no tempo um pouco e esbarraremos numa lenda do rock e blues chamada Janis Joplin, que em 62 começou a dar o ar da graça na música. É difícil mexer com conceitos de fã, mas se for o seu caso, tente abstrair isso e pensar pura e simplesmente na imagem e qualidade técnica de Janis. Lembre-se que estamos falando de uma época onde coexistiam Elvis, Morrison, Cash, Joan Baez... donos de vozes impecáveis. E lá vem (com todo respeito) a riponga com padrões de beleza avessos a “fórmula de sucesso” e uma voz que faria muita gente tapar os ouvidos com aqueles gritos quase histéricos! Só que ao invés disso, ninguém tapava os ouvidos, nem fechava os olhos, nem nada do tipo, mas exatamente ao contrário! O sucesso foi certo, estrondoso e... inexplicável! Simplesmente, Janis. E só ela.

Contemporâneo, e de peso lendário também, ainda posso citar Neil Young! Ô vozinha renitente! É até meio fanho! Sua aparência nunca pôde competir com os galãs da música da época (tudo bem que lá nos anos 60 isso estava longe de ser um pré-requisito tão pesado quanto os dias de hoje). Só que seu talento estava lá! Nítido, claro. E, pra ser sincero, é um repertório muito bom de ouvir para todas as situações! Se fizesse um teste vocal, jamais passaria pelo crivo de nenhum de nós. Só que isso não parou o Young. Nem coçou seu talento. E assim, mais uma vez, sem explicação lógica, Neil conquistou a indústria fonográfica, ajudado, claro, por suas belas músicas.

Só lembrando que estou falando de aspectos à primeira vista, ok? Claro que todos esses exemplos possuem outras qualidades, essas sim, bem evidentes e lógicas, como as músicas, a banda (Hã, Janis, dê uma voltinha lá fora nessa hora, tá?), o espírito, a alma! E isso tudo e, até mesmo a falta de razão para motivos, é arte! A eterna e bela arte!

Galera, com este post em clima leve, em clima #musica, me despeço temporariamente do Out of the Box rumo a um intervalo de 2 a 3 meses! Por motivos pessoais, precisarei me ausentar das atividades do blog por esse período, mas, para quem curte, não se preocupe, o retorno é certo, garantido, como em outras ocasiões que precisei parar um tempo. Dessa vez, o tempo será maior, eu sei, mas é necessário. Fiquem ligados, me acompanhem no Facebook e Twitter (sou @leolanzarin nas redes sociais) que assim que o blog voltar à ativa os textos serão divulgados lá, como de costume.

Obrigado e até a volta!
 
OBS: a última foto é de Neil Young (Foto: The Concert Database). Pra variar, o blogger me deu uma rasteira na edição de fotos, mas tudo bem. Vamos nessa.



 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Uma data de 10.000 anos atrás



Há 68 anos nascia um gênio da música brasileira. Ou teria sido há 10000 anos? A vida de Raulzito já foi muito falada e não é minha intenção fazer um texto biográfico, mas sim, uma homenagem. Hoje é a data de nascimento do saudoso Raul Seixas. E sabe que fico curioso em pensar o que estaria ele fazendo se estivesse vivo e bem? Não seria impossível, já que temos Caetano, Gil, Erasmo, Bob Dylan e tantos outros ainda mais velhos. E aí penso, em tempos de passeatas, Feliciano... o que Raulzito estaria falando disso tudo?

A metralhadora giratória de Raul costumava rodar no círculo da MPB, contra Caetano, Gil, até Tim Maia de vez em quando... e contra a música que dominava a sua terra natal, o axé. Hoje em dia, o rock nacional tomou rumos bem diferentes. Imagina o que ele falaria dessas bandas teen, como Restart, Cine e afins! Talvez até antes disso, Planet Hemp, Raimundos, Os Ostras, já teriam o incomodado, já que à época do lançamento do álbum Metrô Linha 743, o barulho desregrado já estava tirando ele do sério. É, talvez, cada um tenha sua hora certa e, talvez, a hora certa seja realmente certa.

A nós, fãs, resta a saudade, mas como arte é eterna, é sempre tempo de ouvir o bom e velho Raulzito! Sei que muita gente não gosta, outros gostam até demais, outros não conhecem direito, mas uma coisa há de se admitir: há tempos não se faz mais letras de rock de qualidade similar! Com todo respeito a Cazuza e Renato, pois fazem parte desse grupo também. Isso é um dos elementos que mais lamento e sinto falta no rock atual!

Enfim, Raul Seixas sempre será lembrado enquanto houver música! Parabéns, Maluco Beleza!

“Ó morte, tu que és tão forte, que matas o gato, o rato, e o homem, vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar! E que meu corpo seja cremado. E que minhas cinzas alimentem a erva. E que a erva alimente outro homem como eu.” (Canto pra minha morte, Raulzito)

 
 

 
 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Acordes, hinos, times e outras histórias



(Foto: blog no220)

 
É engraçado como o esporte movimenta as pessoas. De todos os “pães e circos” que o homem inventou, esse talvez seja o mais bem sucedido. É difícil alguém não se identificar com algum esporte, mesmo que não o pratique, mas acaba pelo menos sendo platéia, torcedor, ou como queira chamar. Particularmente, gosto de assistir lutas e, por uma questão inconsciente-cultural-brasileira, assisto a jogos de futebol da seleção. Na verdade, de seleções. Gosto de futebol de seleções. Clubes, não. E não há motivo óbvio pra isso.

De qualquer forma, esportes movimentam muita gente e, nesses dias de Copa de Confederações, andei pensando em como a música acaba sendo inspirada por esporte e, muitas vezes, serve de inspiração para esportistas e torcedores também. Em 1998, a música É uma partida de futebol do Skank virou hit de Copa do Mundo no Brasil, embora essa música seja de 1996. A música tratava exatamente da paixão por futebol. Tem movimentos no Facebook hoje que ainda estão pedindo essa música como sendo a oficial da Copa de 2014, para se ter uma ideia do sucesso que foi e é até os dias atuais. Em 1972, Jorge Ben lançou a clássica Fio Maravilha, inspirado por uma partida de futebol do Flamengo em que ele assistiu no Maracanã. Eu não gosto dessa música, mas o seu sucesso é inegável.
 
Samuel Rosa, vocalista do Skank
Lembram da banda Dr. Sin? Para quem não conhece, é uma banda de hard rock aqui do Brasil que despontou em 1993. Nunca mais ouvi falar, mas creio que ainda estejam na ativa. Pois bem, essa banda também fez uma música onde trata de futebol, Futebol, mulher e rock ‘n’ roll. Essa música é mais extrovertida e usa muitos trocadilhos pra criar uma letra de duplo sentido misturando futebol e sexo. A música é engraçada. Recentemente, Falcão, vocalista do O Rappa, gravou Vem pra rua para uma campanha da Fiat. Por acaso, ela se tornou hino do movimento popular que tomou conta do país, o que veio muito bem a calhar, diga-se de passagem, mas a verdade é que a ideia era ser uma música sobre a seleção brasileira de futebol! Tem gente que nasceu virado pra lua. Dupla sorte da Fiat, mas tudo bem.
 
Mr. Eddie Vedder em show solo
 E se você pensa que isso é exclusividade do Brasil, engana-se completamente. New Order gravou uma música chamada World in motion inspirada (na verdade, inspirando) na seleção da Inglaterra. A música segue na linha pop que, a meu ver, é a especialidade da banda. Boa música, se curtir aquele estilo de pop anos 80. E, aliás, nem só de futebol vive o esporte! Há tempos atrás, escrevi um post sobre a música Sweet Caroline (se não leu na época, clique aqui) e comentei que ela se tornou hino não-oficial do time Red Sox (beisebol) e não há um jogo sequer que ela não seja tocada no campo deles. Eddie Vedder também fez uma música para um time de beisebol, a pedido do treinador do time, o Chicago Cubs. A música é All the way e tem uma letra voltada pra motivação do time. Apesar de ser uma música encomendada, Eddie lida bem com isso e consegue criar belas músicas nessas situações. Dessa vez, não foi diferente. Quem não conhece, vale a pena ouvir!

Apesar de não ser, creio eu, fã assíduo de nenhum esporte, gosto da ideia da música estar envolvida com isso. Sou contra a alienação pelo esporte e o uso do mesmo como instrumento de manipulação popular, coisa que nossos governantes adoram fazer, mas conseguindo abstrair isso, a mistura do esporte com a arte me agrada! Nem sempre as músicas que surgem são legais, mas surge muita coisa boa também! E quanto mais se ouvir música (boa), pra mim, melhor!

Como estou quase certo que É uma partida de futebol está até hoje na cabeça da maioria das pessoas, vou encerrar, da parte de música nacional, com a música do Dr. Sin, Futebol, mulher e rock ‘n’ roll para quem não conhece poder ouvir. E com All the way de Eddie Vedder, como música internacional.

Ao saudável (mentalmente também) esporte, à saudável arte!
 
 
 
 
 

terça-feira, 18 de junho de 2013

Intervalo: o palco do povo

(Foto: Veja Abril)


Parece que estamos vivendo um momento histórico no Brasil. Realmente, parece. As pessoas estão nas ruas de novo! Protestando! Gritando! Fazendo-se ouvir! Quando foi que isso aconteceu pela última vez? Bem, não sei, mas pela primeira vez, talvez, as redes sociais tomaram um corpo que deveria ser o fundamental desde o início: integração de pessoas! Os rebeldes de internet deixaram as plataformas virtuais e partiram para as ruas de fato. Deu até a impressão de ter sido um movimento realmente organizado, onde a internet foi ferramenta (o que sempre deveria ter sido, a propósito). Outra vantagem disso é ter conseguido atingir o mundo inteiro!
 
Na verdade, quantas manifestações terão sido abafadas na história porque foram rapidamente sufocadas, em um tempo onde a comunicação era precária e lenta? Agora, essas coisas são mais difíceis! Que bom! Em meio a isso, o governo, sabiamente, descobriu que não pode tomar qualquer tipo de atitude, pois agora estamos sob holofote da mídia mundial. E prefeitos, governadores e até a presidente estão dando declarações meio que apoiando o movimento. Ah, a cara de pau típica dos nossos políticos honrados! O movimento é contra vocês, sabiam? Ou ao menos contra a máquina que vocês administram! Que nós pagamos vocês pra administrar!
 
Em meio a isso tudo, o mundo viu que o povo está protestando contra o sistema inteiro! Mas aqui, na terra tupiniquim, ainda insistem em dizer que o protesto é contra o aumento de passagens, sem entender que isso foi apenas a gota d'água para um copo já cheio demais para segurar um transbordo! O meu medo é: em um movimento contra algo tão amplo, não há uma solução objetiva para o governo atender a essa reivindicação. Ou o povo vai perder a razão em algum momento, ou vai perder a força, ou vai virar notícia do ontem. Perder a razão quando o governo disser: ok, eu vou atendê-los, mas vocês não me dizem o que querem! Perder a força quando as pessoas enjoarem de ir as ruas por descrédito no seu próprio poder (uma pena!). Virar notícia do ontem, quando a mídia julgar que não podem mais extrair sensacionalismo nenhum disso tudo.
 
Pensem comigo, se o protesto é contra toda a lama em que estamos inseridos, qual é a solução do governo? A mais nobre, a meu ver, seria cair fora. E aí, sim, teríamos uma verdadeira revolução popular! Sei que é utópico, mas seria o melhor desfecho. Como isso não vai acontecer, espero que o governo aprenda a lição real disso tudo. Que o povo não está mais afim de vestir fantasia de palhaço. E espero, também, que o povo não ache isso tudo um movimento sem sentido. E aprenda, também, que vale a pena se juntar e protestar. Vale a pena brigar pelos seus direitos. Aprenda que o povo tem, sim, a força. É o motor do país. Tem voz. E espero que tenha memória, também.
 
Não quero que movimentos como este sejam manjados e percam moral e força, pois, nunca é mais do mesmo protestar pelo que é certo! Somos notícia no mundo inteiro! Estamos na vitrine do mundo e nao é pelo carnaval, nem pelas mulatas, nem pela música. É por política! Em raras vezes, é por política, e não pelos políticos, mas pelo povo! O mundo está conhecendo o povo brasileiro! Isso não pode ser ignorado. E tem o dever de não ser esquecido jamais!
 
E agora, governantes, o que vai ser? O mundo espera uma resposta à altura.
 


terça-feira, 7 de maio de 2013

A linha e(in)volutiva da humanidade


(Foto: Thinkstock)


Tenho lido matérias de internet, visto séries de TV e até lido críticas dessa realidade pop-cultural, digamos assim, e tem um aspecto que anda me chamando atenção: é impressão minha ou algumas características estão mudando de lado? Explico: quando vingança “saiu do lado negro da força” e foi promovida a atitude louvável? Quando o ato assassino passou a ser espetáculo digno de aplausos? Acho que perdi o bonde em algum momento e não percebi. 

Admito que muitas vezes o clichê bem x mal é entediante, mas o que anda pairando na cultura hoje, ao contrário do que muitos críticos ditos modernos possam dizer, não é uma humanização verossímil dos personagens fictícios, mas sim uma desconfiguração de valores que pode se tornar perigosa. Infelizmente, o povo é ignorante. A massa é ignorante. As crianças e jovens são ingênuos e, em raras exceções, influenciáveis. Não sei quanto a você, mas eu não gostaria de ter um filho que acredite que a atitude mais obvia frente a alguma discórdia com alguém seja prejudicar a outra pessoa até o ponto de fazê-la sofrer o máximo possível. Não gostaria que meu filho achasse a morte de uma pessoa algo digna de aplauso e comemoração, por pior que seja. 

Não estou querendo bancar o moralista, coisa que não sou, mas não acho esse tipo de banalização saudável pras pessoas. Tenho um sério problema quando a questão é intervenção em vida alheia e esse tipo de cultura que anda sendo divulgado é muito fútil pro meu gosto. Se duvida, pode assistir aos programas de maior sucesso na TV, ou livros ou quadrinhos e perceba: os temas centrais (eu disse, centrais) são em torno de traições, vingança, morte (aclamada). Essas coisas sempre existiram, mas não é isso que me chateia. O que me chateia é o holofote nisso. Eu preferia quando o foco das obras era um enredo elaborado ou uma temática de reflexão ou uma visão inovadora do mundo; quando a cultura era o apelo sensitivo do ser humano. Mas acho que essas coisas viraram caretas... e nossos jovens estão ficando mais fúteis e, pior, insensíveis. 

Talvez seja exagero, mas toda aquela barbárie do homem antigo da História está presente no homem até hoje, com outra roupa, outros motivos. Bem, pelo menos o homem antigo tinha a desculpa de ser intelectualmente menos desenvolvido, ter menos conhecimento, menos cultura, menos referências. Qual é a nossa desculpa dessa vez?




sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dos acústicos e unpluggeds e a alma nua do rock



Nirvana na gravação do MTV Unplugged in New York, 1993.


Tem muita gente que não gosta, que acha que falta algo, mas eu devo admitir: sou um adorador de acústicos (unpluggeds) de rock! Acho que nesse tipo de projeto ou show ou qualquer coisa que queira chamar... é possível sentir a alma das músicas e, ainda mais, dos músicos! Não que eu não goste das versões originais e com efeitos; eu gosto, mas talvez a simplicidade dos acústicos me faça experimentar um tipo de sensação diferente e que muito me agrada. Como acredito que o rock é muito mais cultura do que efeito sonoro, a falta das distorções e efeitos carregados não me faz desanimar. Eu apenas entendo que é uma forma diferente de se ouvir a banda.

A onda de gravar acústicos no meio rock foi promovida pela MTV e, como deu certo, esse projeto foi durando anos e sendo feito com diversas bandas. A primeira banda a gravar um MTV Unplugged foi o Squeeze, em 1989. Aqui no Brasil, embora muita gente diga que foi o Barão Vermelho quem gravou o primeiro Acústico MTV, o inaugurador do projeto foi Marcelo Nova, que fez o programa piloto. Ele já vinha fazendo uma turnê acústica na época em sua carreira solo e, por isso, foi convidado pela MTV para testar o formato. No ano seguinte, foi a vez da Legião Urbana gravar aquele que talvez tenha sido o mais simples já feito até hoje! Foram usados 2 violões e percussão. Bem básico, mas quem conhece sabe: foi uma grande obra!
 
Gravação do Acústico da Legião Urbana, 1992.

Aqui no Brasil, o Acústico MTV ficou conhecido por um tempo como o ressuscitador de bandas, já que os Titãs voltaram ao topo das paradas por conta disso. Claro, esse acústico é, sem dúvida, um dos melhores discos deles e, na minha opinião, um dos melhores acústicos que a MTV brasileira já produziu! Além deles, Capital Inicial ressurgiu por isso e até o Kid Abelha também. Aliás, o Kid Abelha conseguiu a façanha de ter o acústico mais vendido da história no Brasil! Confesso que não sou muito fã deles e prefiro outros como Legião, Titãs, Capital e Cassia Eller, mas é um bom disco, sim. Falando em termos internacionais, quem mais vendeu unplugged foi R.E.M, seguido por Eric Clapton. E, diga-se de passagem, vendagem super merecida! O álbum é muito, muito bom!
Sendo sincero, eu não saberia dizer qual o melhor acústico ou unplugged gravado até hoje. Nem mesmo se dividisse em categoria nacional e internacional, eu saberia escolher um em cada. O que eu gosto mesmo é de sentir o clima de “roda de violão”, o clima de tom menor que essas obras proporcionam, como se fossem momentos mais intimistas com as bandas. E é ali que a qualidade e a sintonia da banda afloram ainda mais! É como ouvir a banda sob outro prisma. Em resumo, uma faceta a mais para se fazer arte no rock! Tentando listar meus favoritos, vamos lá (top 5):
 
Nacionais:

1. Legião Urbana
2. Capital Inicial
3. Cassia Eller
4. Rita Lee
5. Lulu Santos
 
Internacionais:

1. Nirvana
2. R.E.M.
3. Pearl Jam
4. The Cranberries
5. Korn
 
Internacionais foi bem difícil! A única vantagem, se é que se pode chamar assim, é que alguns clássicos eu não cheguei a ver/ouvir. Pretendo, mas sei que isso vai tornar ainda mais difícil ranquear uma lista. Eu sei que o Nirvana foi bem tendencioso, já que é uma das minhas bandas favoritas, mas ainda assim foi uma obra bem gravada, um repertório inesperado, para os padrões dele, e uma performance igualmente diferente para eles. Pearl Jam foi mais parecido com o que eles sempre se apresentaram, mas Vedder, ao invés se estar mais comedido, como era de se esperar, estava cantando de forma muito intensa e fez um trabalho excepcional! Cranberries não decepciona nunca e fez um material infalível e emocionante! R.E.M, como já falei, é merecedor de ser o mais vendido porque o acústico da banda é muito bem produzido, muito bem executado, bom de ouvir mesmo! O do Korn, quem não conhece, recomendo muito! Mesmo quem nem seja fã deles (como eu não sou) vale a pena conferir! É carregado de energia! Muito bom!
 
Por hoje é só! Obrigado a quem curtiu! E viva o rock, em todas as suas formas!




 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Time is (not) money

 
(Foto: Storenvy)
Quem sabe não seja esta uma das frases mais influentes que os americanos já divulgaram: Time is money! Ou talvez tenha virado um grande jargão. Não sei se é real, mas a frase é atribuída a Benjamin Franklin. Dentro dessa rápida frase, um grande mar de elementos da vida humana: a pressa, o foco, a prioridade, a ganância, o trabalho...
 
Tempo não é dinheiro. Tempo não custa dinheiro. Se custa, não é pelo tempo, mas pelo homem. E essa frase é usada para muitas coisas, mas, tem bastante efeito quando o motivo é sugestionar alguém a fazer seu trabalho com pressa (e, quase sempre anexo, sem pensar) ou quando a ideia é cobrar por tudo o que se faz. É o álibi verbal para a ganância. E, em meio a isso tudo, eu me pergunto: se o tempo não deve ser desperdiçado com nada, se não o que dá dinheiro, certamente alguém não avisou isso a Thomas Edson quando ele perdeu horas e horas e horas na questão da eletricidade sem sequer saber no que isso resultaria. E esqueceram também de avisar Einsten quando perdia momentos homéricos em sua sala ou embaixo de árvores (onde gostava de escrever) desenvolvendo suas teorias físicas, também sem ter um propósito específico de lucro.
 
Tempo não é dinheiro. E é um equívoco quase blasfêmico reduzir uma condição existencial de tamanha proporção como o tempo a uma mera invenção humana. Há tempo para se ganhar dinheiro, mas há tempo para não se ganhar também. Ferramenta é ferramenta e máquina é máquina. Dinheiro é objeto, não é objetivo. É meio para alguma coisa. Não é a coisa em si. Não há nada de mal em ganhar dinheiro, mas o homem deveria ter cuidado para não passar a vida inteira atento a ganhar dinheiro a ponto de deixar a vida passar e acabar perdendo... tempo! Então, agora, dá para entender que “Time is not money”. E por essa lógica final, contrariando Benjamin e os tayloristas, o tempo não custa dinheiro, mas, sim, o dinheiro custa tempo. O tempo? Ah, não menospreze o tempo! Ele nada tem a ver com as nossas questões. Como já disse em um antigo post, o tempo não está preocupado com as questões humanas, com os anseios, com os desejos, com os sonhos, com as frustrações. Haja o que houver, o tempo simplesmente passará.
 
Em desculpas a Mr. Franklin, encerro o texto.
 
 
 
 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Kurt: o claro som do grunge

 
 
 Hoje faz 19 anos que Kurt Cobain partiu deste mundo. Há 2 anos escrevi um post em homenagem a ele (se não leu na época, clique aqui), mas acho que nunca chegará um dia no qual não se tenha nada mais a falar. Hoje vou comentar curiosidades de uma situação específica: um dos shows que considero mais talentosos do Nirvana... e atípicos também – O MTV Unplugged, gravado em 1993, New York.

Deve ter sido estranho para quem estava acostumado a pular e agitar ao som do Nirvana, de repente, assistir ao show deles sentado. Aliás, eles estavam sentados! E sem guitarras. Bem, sem guitarras não exatamente, mas tocando de uma forma muito mais limpa que o de costume. E a característica mais marcante do grunge (a distorção) não se fez presente, embora eles tenham usado alguns efeitos menos sujos. E é por isso que eu sempre falo que o grunge não é um estilo de tocar, mas um movimento cultural do rock; mas isso é papo para outro dia. Enfim, o que algumas pessoas não sabem é que esse show quase não acontece. Kurt estava sumido da banda há dias e faltou a quase todos os ensaios marcados. Dave Grohl, então, assumiu a liderança da banda e coordenou os ensaios mesmo sem o Kurt presente.

Quando os executivos da MTV já não acreditavam mais que iria acontecer, Kurt aparece a menos de uma semana da data da gravação, com um repertório completamente diferente do que a banda estava ensaiando. Não é a toa que quase metade do setlist é composta de covers. E eu sei que deve ter sido uma merda para a banda, mas a escolha do repertório de Kurt foi genial! E o disco é um dos melhores acústicos que eu já ouvi (embora reconheça que é tosco em muitas partes, mas isso também é arte). Curiosamente, enquanto Kurt estava ausente, surgiram músicas como Monkey Wrench e Everlong (se não me engano sobre esta) que depois viriam a se tornar repertório do Foo Fighters, sob comando de Dave Grohl.
 
 
Outra curiosidade: ao contrário do que se falou na época, Kurt não foi indiferente ou arrogante com a platéia, mas estava, sim, extremamente nervoso por 3 motivos: 1 – nunca a platéia esteve tão perto dele após o sucesso do Nirvana; 2 – ele próprio estranhou a reação das pessoas por estarem comportadas demais, sentadinhas e tal; 3 – tinha medo de errar as músicas pelo pouco ensaio que houve, fato provocado por ele próprio, claro, devido às ausências. Inclusive, Kurt tocou Pennyroyal Tea sozinho não porque era o programado, mas porque a banda não teve tempo de ensaiar em conjunto aquela música. Se puder assistir o bruto do vídeo do unplugged, é possível ouvir Cobain perguntando ao Krist se era para ele tocar a música sozinho, onde Krist responde, meio indeciso, que “sim, sim, é melhor você tocar sozinho”.

Aos trancos e barrancos, o MTV Unplugged do Nirvana aconteceu... graças a Deus! Os fãs agradecem. E mesmo mal ensaiado, a performance da banda estava enérgica como sempre. Não agitada, claro, mas cheia de arte! E é isso que sempre fará falta ao mundo do rock: a arte de Kurt.

Sempre, salve Kurt Cobain! 
 
 
 

sexta-feira, 8 de março de 2013

O sexto sentido do Rock


The Runaways (Foto: blog White Trash Soul)


 
Hoje é dia internacional da mulher e, para homenagear, decidi escrever sobre a presença feminina no rock! Atualmente é muito mais comum termos estrelas femininas no gênero, mas nem sempre foi assim. Acho até que deixamos de enaltecer muitas delas por conta de um machismo na indústria fonográfica da época. De qualquer forma, este post é dedicado a elas: as mulheres do rock!
 
Memphis Minnie (Foto: Last.fm)
Lembra aquela máxima de que o rock veio do blues? Pois é. Se Arthur Crudup foi o avô do rock, Elvis foi o pai, uma pessoa chamada Memphis Minnie foi a mãe! Ou talvez a avó, já que o estilo foi de fato, o blues. A importância dela é ter sido uma das primeiras mulheres a cantar E TOCAR violão nesse estilo... e fazer sucesso, claro. Seu hit mais expressivo foi When the leeve breaks, que ficou mais conhecida na versão do Led Zeppelin. E, afinal, se Memphis era avó, então, Wanda Jackson, essa sim, foi a mãe. Menos destacada no cenário musical, foi uma cantora country que acabou migrando para o estilo rockabilly que explodiu pelas mãos de Elvis, Jerry Lee e os contemporâneos de época. Tem que ser mencionada porque, novamente, foi uma das primeiras a cantar o estilo ao invés de ficar restrita ao country ou ao estilo balada romântica ou soul, como as cantoras da época normalmente faziam (nada contra!).

Quando o Glam Rock, iconizado por Bowie tomou conta das rádios, uma outra mulher importante surgiu: Suzi Quatro. Suzi está para o rock como Arthur esteve para Elvis: fonte de inspiração. Se você não conhece Suzi, certamente ouviu falar da banda The Runaways, talvez a maior banda formada apenas por mulheres que tenha aparecido no mercado. Bom, se ainda assim isso não te diz nada, é de lá que saiu Joan Jett, que eu acho que é uma das roqueiras mais respeitadas da música. Se não está associando o nome à pessoa, ouça o hit I Love Rock ‘n’ Roll (todo mundo já ouviu essa, vai!). Joan já foi considerada uma das maiores guitarristas do mundo, o que é bem legal para qualquer um, seja homem ou mulher.
 
Nos anos 70 estourou uma banda chamada Blondie, onde a vocalista era Debbie Harry (ex-namorada de Iggy Pop), que também virou atriz e teve até coleções de roupas lançadas por inspiração no seu estilo. Nessa época a indústria já não tinha mais tanto preconceito e já apostava nas estrelas femininas, mas, para mim, é impossível falar dessa época (60/70) sem falar de um dos maiores ícones do rock até hoje: Janis Joplin. Eu comparo o tipo de impressão que ela trouxe para a música com o que fez The Doors ou Pink Floyd. O estilo extremamente original, que ninguém mais fez, que ninguém seguiu, que só ela soube fazer. Sua voz tinha tudo para ser ruim, mas era vigorosa, viva, forte! Sua imagem tinha tudo para não vender, mas ela fez sucesso mesmo assim (ainda que tenha tido uma curta carreira)! Janis será sempre Janis.

No cenário mais punk, outra artista que dificilmente fica fora das citações, vamos dizer assim, é Patti Smith. Na verdade, quando se trata de punk, até hoje ela é dona das melhores letras do estilo. Ainda viva, é considerada uma lenda viva do punk, assim como Dylan para o folk, King para o blues e por aí vai. Ela teve muitas músicas de sucesso, mas o álbum que a consagrou foi Horses, chamando atenção inclusive de músicos da época. Depois, Because the night, em parceria com Bruce Springsteen, pode ter sido um dos seus maiores hits. Para uma carreira tão longa quanto a dela, é até difícil dizer isso, mas tudo bem.
 

Eu sei que muita gente não gosta, mas eu não posso deixar de falar dela, a polêmica Courtney Love! Vocal e guitarra da banda Hole, Courtney é ex-mulher de Kurt Cobain e chama muito mais atenção pelas confusões que arruma do que com a sua música, mas eu preciso convidar as pessoas a ouvir o som dela. Para quem gosta de grunge, é quase impossível não reconhecer o talento de Love. Sua voz é estridente, tem presença, tem emoção... se não fosse a personalidade exageradamente perturbada, não tenho dúvidas que seria uma grande estrela do rock, porque talento ela tem muito! Talvez o casamento com Kurt a tenha ofuscado também... não sei. De qualquer forma, gosto muito das suas músicas e sua performance ao vivo. Das músicas de destaque, tenho minha preferida em Violet (se não gosta do lado pesado do grunge, passe longe). É uma pena que Courtney tenha queimado o filme tão grosseiramente a ponto de ter seu talento ignorado, mas, enfim, não deixa de ser uma musa do rock. Outra que chocou o mundo, embora o estilo musical não fosse exatamente rock, foi a Amy Winehouse. Se a música não era rock, o estilo pessoal o era na melhor forma! Fará muita falta ao mundo da música porque a indisciplina dela caminhava ao lado de uma voz muito bem preparada e uma expressão corporal sutil, mas significativa. Por toda exposição de mídia que houve (algumas bem exageradas, até), acho que não preciso comentar muito sobre ela, mas tinha que ser citada aqui, sem dúvida.
 
E não vamos cometer a injustiça de não citar as roqueiras do Brasil! Acho que é quase unanimidade falar que Rita Lee é a maior delas. Nem vou citar seus hits porque seria quase zombar de quem está lendo. Tenho certeza que você sabe, no mínimo, umas 5 músicas dela de cor! Gosto de ouvir as músicas mais antigas da Rita, quando considero que ela explorava mais as suas qualidades vocais, incluindo até mudar a sua voz a ponto de ser quase irreconhecível! A impressão que me dá é de um desapego à preocupação técnica que acabou se transformando em uma qualidade desse próprio aspecto! Só que não posso deixar de mencionar outra ícone do rock que eu coloco no topo também: Cássia Eller. Era uma das melhores intérpretes que tivemos e conseguia transitar bem entre o rock, o pop e ainda batia na porta da MPB de vez em quando. Essa realmente faz falta no cenário nacional! Inclusive, sem menosprezar o acústico da Rita Lee (que é muito bom!), o acústico da Cássia é um material muito, muito bom que o Brasil tem! Gosto muito de ouvi-lo! E quem sabe quando a Pitty conseguir estabelecer melhor a sua personalidade musical, esquecer um pouco o mercado no quesito “imagem”, ela possa também ser uma musa de grande destaque na história do rock nacional. Gosto das letras da Pitty, acho que ela faz boas músicas, mas me incomoda ver que ela molda sua imagem de acordo com os artistas da onda. Isso meio que me faz expressar aquela cara de “estranheza”, sabe? Mas, ainda assim, o talento dela é evidente, suas letras são boas e o Brasil precisa muito disso hoje em dia!

Não somente as roqueiras, mas fica aqui a minha homenagem e parabéns a todas as mulheres! Parabéns pelo dia de hoje e por todos os outros, afinal, 8 de Março é apenas uma janela do resto do ano!

Valeu!

 


 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Da censura e seus (a)braços


(Foto: Blog Libera No Domine)
 
 
Não sei exatamente quando começou a censura na humanidade. Provavelmente, a censura e a humanidade sejam irmãs gêmeas. De qualquer forma, houve um tempo em que a censura ficou em evidência no país. Quem tem pelo menos 30 anos lembra do cheiro longínquo da Ditadura. Quem tem mais de 30 anos, saberá até citar muitos exemplos. Na verdade, lembro de ter visto algumas capas de disco com o adesivo “censurado”, que proibia certas músicas de serem veiculadas em rádio ou TV, como Faroeste Caboclo, por exemplo.

Esse tipo de censura foi abolida... oficialmente. Ainda tem muita censura rolando por aí. Admito ser a favor da censura de idade. Realmente, tem coisas que a mente infantil não está preparada para assimilar de forma completa e razoável. E algumas informações mal processadas podem destruir a saúde mental de um futuro adulto. Só que essa censura, e nem as outras, foram as piores. O que elas plantaram foi muito pior: a censura que nós fazemos. A censura de grupo, por exemplo, é uma das mais bestiais. Basta ter um grupo de pessoas tímidas, por exemplo, a testemunhar atitude de um grupo de pessoas extrovertidas e já se estabelece uma censura, como se o certo fosse a atitude dos tímidos (ou vice-versa). E daí, segue-se preconceitos e adendos.

Vamos combinar uma coisa: certo e errado são conceitos, dentre milhões, que são relativos! Relativos! Até hoje ainda existe uma censura coletiva absurda, principalmente, nas mídias. Elas estão abolindo aspectos lúdicos da ficção... por serem considerados errados! Alguém, por acaso, percebeu que os bandidos pararam de “vencer” nos filmes, novelas e seriados? Alguém percebeu que os mocinhos não comem mais junk food ou mesmo são gordos? Exceto, claro, quando o enfoque é psicológico (mostrar que as pessoas valem por dentro ou que é possível vencer obstáculos e coisas do tipo). Quando começaram as campanhas contra o cigarro, o que eu acho que tem que ter mesmo (é informativo), os heróis pararam de fumar na TV. Os bandidos sempre fumavam. Hoje em dia, nem eles. E ainda acham que a censura foi vencida porque já se pode exibir beijo gay nos programas e filmes! Se fosse simples assim! Deuses, são obras de ficção!! E estamos podando a liberdade de criação porque depositamos na TV o papel de... educar?? Eu sei que tem pessoas influenciáveis, mal instruídas e que tomam essas coisas como exemplo, mas o erro não está na TV, o erro está na educação dessas pessoas! É isso que tem que ser remediado!

Então, vocês estão percebendo que a censura é uma arma para tapar o sol com a peneira. É mais fácil censurar o que está chamando a atenção, do que corrigir o que está errado. Dá menos trabalho. É mais fácil censurar o próximo, do que assumir que você precisa melhorar ou mudar.   No fim, os grandes absurdos do nosso dia a dia estão sempre ligados a educação, que sangra calada por anos e anos e anos de história humana. Mas isso é papo para um outro post. Se já estão pensando a respeito de todas essas maluquices reais que citei, essa era a ideia!

Um bom dia a todos!

 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quando o Carnaval é Rock (ou vice-versa)



Lu Barataz, vocalista do Bloco Cru
 
 
Tardiamente, hoje vou falar sobre o Carnaval. Queria ter escrito este post logo após o mesmo, mas não deu. Tudo bem, tudo bem, eu sou uma pessoa enrolada, mas isso não altera a ideia, que é o que importa aqui no Out of the Box, no final das contas. Enfim... muitos roqueiros normalmente não gostam de Carnaval. Acham uma festa babaca com música ruim. Devo admitir que discordo dessa visão. Eu costumo gostar de quase todos os movimentos populares e o Carnaval é genuinamente um deles. Eu sei que hoje a indústria tomou conta em muitos lugares e tal, mas a origem é popular. E sem as pessoas, afinal, não existe Carnaval. Eu acho que pessoas combinam estando juntas, em mutirões (fora os idiotas que sempre arrumam confusão). Quando estão com a mesma energia, a sensação é indescritível. Quem já presenciou isso, sabe do que estou falando. Não precisa ser Carnaval ou grandes festas. Em shows (de qualquer tamanho) isso rola com freqüência.

Bem, especificamente no Carnaval, eu acho a ideia da festa legal. A música não era normalmente do meu gosto, confesso, mas a diversão das pessoas e o grupo no qual eu estava nessas situações compensavam. E sabem o que sempre percebi? Quando o Rock entra no circuito musical, mesmo quem não é roqueiro, se anima com o som! No Rio de Janeiro, onde moro há alguns anos, pude assistir shows dos blocos de rua que tocavam rock. Um deles, inclusive, era só de músicas de Raul Seixas; o nome era Bloco Toca Rauuul. Há outro que foca em músicas dos Beatles, cujo nome é Sargento Pimenta (alusão ao nome do disco, Sgt. Peppers). O interessante, nesses casos, é que fazem adaptação dos rocks para o estilo “marchinha de Carnaval”, que é o estilo tradicional do Carnaval de rua carioca. Há um terceiro bloco, o Bloco Cru, que usa bastante as guitarras distorcidas, mas sempre faz presente a percussão das marchinhas, criando um estilo bastante interessante de se tocar. Lógico que, por deixar presente os elementos clássicos do rock, eu gostei mais desse bloco, mas todos os outros que citei são bons também.
 
Bloco Toca Rauuul
E lembro em tempos mais saudosos, quando morava ainda em Salvador, de estar curtindo o Carnaval de rua lá, onde o domínio absoluto do estilo musical era o Axé Music, e sempre em determinado ponto do circuito algumas bandas, a exemplo de Asa de Águia e Jammil, paravam o trio elétrico e tocavam algum clássico de rock. E era engraçado ver as pessoas renovarem as energias a este som. Pessoas que diziam que não gostavam de rock, pulando animadas, cantando as músicas. Roqueiros que estavam lá para curtir, conformados de serem peixes fora d’água naquela festa, agitarem por, de certa forma, se sentirem incluídos naquele movimento. Esse ponto determinado que falei era conhecido por ser o point da galera mais alternativa (mas nem tanto). Naquela época (finais dos anos 90, início dos 2000) era assim. E começaram em seguida a ter trios elétricos com bandas de rock e pop também. Era o rock “invadindo a praia” do Carnaval de vez. Lembro de ter visto um bloco cuja banda era O Rappa. No mesmo ano, se não me engano, a banda underground Canal Zero puxou outro trio, tocando grandes clássicos do rock o circuito inteiro. E nada disso descaracterizou o Carnaval de lá. Ao contrário, o enriqueceu e deu aquela gostosa ilusão de Carnaval democrático. Sim, ilusão. Sabemos que sempre foi. As pessoas às vezes gostam do pão e circo. Como já falei antes, o pão e circo não é problema se você tiver a consciência dele.

 

Então, galera do rock, se o motivo da repudia ao Carnaval for pela música, saibam que o rock sempre tem o seu espaço. Ou o conquista na marra. Essa é a essência do rock e isso é o que o faz ser o estilo de música mais psicocultural que existe. Se for tendencioso o que falei, pode ser, mas é real para muita gente.

Encerro o post com um vídeo do Bloco Cru, que citei acima. Valeu!



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Conexões Esquisitas: avanços emulados e prazeres originais

(Foto: Blirk.net)
 
 
Outro dia estava passando pela rua em direção ao ponto de ônibus e tinha um bicheiro próximo a uma banca de revista. Eu não sou chegado em jogo do bicho; na verdade, eu até hoje não entendo nem como funciona, não entendo as regras mesmo. De qualquer forma, acho interessante que o tal do bicheiro faça seus registros e anotações em um papel comum, escritos à mão mesmo. Isso já deve ser assim há gerações! Fiquei imaginando como seria um bicheiro hi-tech que, ao invés daquele bloquinho de papel, usasse um laptop ou iPad? A tecnologia não chegou a tudo no mundo.

Trazendo para o mundo da música, situações semelhantes acontecem. Hoje em dia temos tantos efeitos, tantos recursos digitais e ainda assim, o velho jeito de se tocar parece ser o mais empolgante para o público! Basta ver a reação de espanto que as pessoas têm ao saber, por exemplo, que um determinado ídolo usou playback no show. Tudo bem que esse é um recurso muito mais comum do que se divulga, mas ainda assim, ninguém gosta de saber que assistiu a um show onde o cantor(a) não cantou de fato! Hoje em dia ainda tem mais recursos para piorar a situação: “afinadores” de voz como Autotune e Melodyne são cada vez mais comuns no mercado musical. “Soltando o veneno”, muitos ícones pop de hoje, apelam para essas tecnologias a fim de garantir um desempenho melhor ou apenas por precaução mesmo.

À parte disso, existem “n” emuladores de instrumentos musicais que podem substituir os reais instrumentos para se fazer uma gravação. Quem lida com home studios sabe que é muito possível gravar uma música sem pegar um instrumento musical de fato; apenas com emuladores, samplers e softwares virtuais. Não sou contra nada disso. Acho que a tecnologia tem mais é que servir para atender as nossas necessidades mesmo! As únicas tecnologias que eu veto veementemente são as bélicas, porque são irracionais mesmo... fora isso, tá valendo. Agora, é estranho eu imaginar, por exemplo, um mundo sem violão!

Por mais programas de computador que existam, jamais vão substituir o prazer musical de pegar um violão ou uma guitarra (ou o seu instrumento favorito) e tocar de verdade! Tirar um som deles de verdade! Quando joguei aquele tal de Guitar Hero eu já achei estranho pelo fato de estar tocando uma guitarra de botões! Imagina se me dissessem que à partir de agora eu nunca mais tocaria guitarra porque está ultrapassada e já existem samplers que a dispensam? Não! Jamais!

Acho que tem coisas que realmente não devem morrer! Se você não concorda comigo, então, aproveita e faz uma campanha pros donos do bicho darem um notebook para os caras que tomam do ponto, porque ficar anotando na mão grande todas as apostas é sacanagem! Brincadeiras de lado, foi só mais um devaneio que me levou a pensar o prazer de coisas simples que nunca deixarão de existir na música.

É isso.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cheiro de giz

 


Tem vezes que acordo com uma música distante na cabeça. Explico. Não é surpresa você ficar com uma música na cabeça quando existe um contexto para isso. Ou você está ouvindo ela com freqüência, ou ouviu na rua enquanto estava fazendo alguma coisa e, sem perceber, seu cérebro ficou assimilando aquela música para, depois, reproduzi-la incessantemente na sua cabeça... enfim, tem vários motivos. Acontece que, algumas vezes, eu ressuscito alguma música na minha cabeça que há tempos não ouço. E de uma dessas que falarei um pouco hoje.

Eu sei que muita gente não agüenta nem ouvir falar no nome mais. Eu acho até que é uma espécie de reação contra o sucesso que rola. Sempre que alguém faz um sucesso estrondoso, não tarda para começar a surgir opiniões que denigrem ou tentar derrubar a pessoa. De qualquer forma, alguns rótulos de gênios musicais são inegáveis. Não dá para ignorar a grandeza de artistas como Cazuza, Rita Lee, Raul Seixas e Renato Russo, por exemplo. A Legião Urbana fez grandes musicas, mesmo a mídia tendo massacrado e banalizado o seu som. Uma pena.
 
Renato Russo, Legião Urbana.
Dentre elas, e eu não sei o grau de sucesso que a música fez, eu tenho em Giz a minha preferida. É uma música simples, frágil e forte ao mesmo tempo. Arrisco dizer que esse tipo de letra era o dom mais forte do Renato Russo. Essa música me remete sempre a um momento de lembrança. Quando ouço sua letra é isso que imagino: um momento de lembrança, um momento saudoso. Parece um momento triste que marcou, mas que, com o tempo, virou uma lembrança bonita, ainda que triste, bonita. Tranquila de se conviver. A subjetividade marcante da Legião Urbana atingiu uma justa medida platônica nessa música, totalmente em harmonia com a simplicidade das ilustrações que ela faz. As músicas da Legião normalmente tinham um ponto forte: ou muito subjetivas, ou muito românticas, ou muito rebeldes... Giz, a meu ver, é um equilíbrio dos pontos, o que faz dela a melhor canção deles na minha opinião.

Se for para ter “música chiclete” na cabeça, agradeço por ser desse nível. É sempre saudoso relembrar tempos de áureas músicas no rock nacional.

Uma boa quarta-feira a todos!



 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O imperceptível fim do mundo



No ano passado, num post, soltei o verbo sobre as notícias incabíveis que estampam os jornais de hoje (se não leu na época, clique aqui). E fico triste e revoltado por ver que isso não mudou em nada. Essas notícias estão até mais freqüente. Mortes banais. Assassinatos banais. Em família. Por motivos ridículos que, outrora, não gerariam nem uma briga “porrada” de irmãos. E hoje, as pessoas se matam. Por uma conta de restaurante, a pessoa que se sente lesada acha que a pena para quem o aborreceu é perder a vida. É nunca mais abraçar o filho. Nunca mais ficar com a esposa. Nunca mais ver um pôr do sol. Nunca mais sorrir. E, paralelo a isso, todos que estão em volta dele, continuarão a pagar a pena com o sofrimento e a saudade porque o dono do restaurante fez uma reclamação com um cliente descontrolado, marginal, podre. Isso não pode ser verdade.

Uma menina poderia namorar. Ter conflitos emocionais. Ter inseguranças. E, enfim, como um rito de passagem, teria sua primeira vez. Ou, sem namorar, curtindo um momento feliz. Mas é uma genial ideia fazer de uma fase da sua vida, uma fonte de renda. E ela decide leiloar sua virgindade para que uma pessoa qualquer, apenas com muito dinheiro, seja o dono desse momento. Seja antigamente ou hoje em dia, o nome disso é prostituição. Nada contra. Cada um faz o que quer da sua vida. Mas me assusta essa menina ser uma das celebridades mais comentadas, com mais espaço na mídia do que muitos outros talentos que mereciam... talentos de verdade. Notícias de verdade.

Ninguém deveria estar pagando milhões para tirar a virgindade de alguém. Relações não deveriam ser vendidas. São necessidades fisiológicas, emocionais, sociais. Não precisam ser um negócio. Ninguém deveria estar pagando milhões para alguém fazer a barba ou cortar os cabelos. Isso é higiene pessoal. Não precisam ser um negócio. Quem precisa de investimento de milhões é quem está passando fome, quem está sem remédio, quem está sem escola. Essas são notícias que valem milhões. Em vez de fazer um programa de leilão de virgens, faça um programa de arrecadação de fundos para quem precisa de verdade.

Se todos os aspectos da vida estão banalizados ao extremo, isso talvez signifique alguma coisa. Se a vida não vale mais nada (não foi por 7 reais que alguém morreu outro dia?), se vale tudo para ganhar dinheiro (e da maneira mais fácil possível), se qualquer conteúdo (ou falta dele) é digno de fama, se os sentimentos viraram démodé, babaquice ou fraqueza... então, talvez os profetas estivessem certos e o mundo tenha realmente acabado em 2012. E o homem, tão preso nos holofotes e futilidades que criou, foi incapaz de perceber a catástrofe que aconteceu bem diante do seu nariz.