Algumas coisas são inevitáveis na vida. Uma delas é a sensação que sentimos (tensão, nervosismo, receio) quando estamos diante de uma primeira vez. Por um segundo, voltamos à nossa essência mais pura, beirando o infantil, que gera o medo e resulta naquela clássica tremedeira, quase imperceptível aos olhos alheios, naquele frio na barriga, naquela inquietação nos lábios... seja o que for, são expressões sinceras que tentam traduzir nossos pensamentos naquela hora, o que seria impossível fazer com palavras, tamanha a freqüência e velocidade com que estamos receando que a estréia dê errado.
O primeiro dia na escola. O primeiro campeonato (de qualquer coisa). O primeiro encontro. O primeiro beijo. A primeira vez. O primeiro emprego (e o primeiro dia em qualquer novo emprego). O primeiro show. O primeiro grande show. Podemos fingir para todo mundo, mas no fundo, o que mais passa pela cabeça é: “será que vai dar tudo certo?”. E, ironicamente, este medo passa independente do resultado ser positivo ou não. Quando dá certo, sorrimos com orgulho. Quando dá errado, sei lá, ficamos tristes, irritados, não sei... mas o nervosismo, a tensão, vai embora.
Gosto de prestar atenção a esses sentimentos, neste caso, tão rápidos, tão passageiros, mas tão sinceros, tão genuínos. Lembro-me do primeiro show que fiz, há 8 anos; nossa! Deu de tudo: branco (achei que não lembraria a letra da música), frio no estômago, inquietação nas mãos, dor de barriga (ridículo, mas corri para o banheiro minutos antes de me apresentar). Naquela época, ainda na escola de música, Schubert, seria uma apresentação rápida; uma música, mas mesmo assim, o nervosismo foi inevitável. Depois que passou: “foi só isso? Assim, tão rápido? Tão normal?” e o mundo sai do modo “pausa” e volta a rodar normalmente.
Em uma esfera bem maior, são clássicas as histórias de artistas famosos que morrem de medo de estréias e, não raro, beiram o desastre em algum momento, como por exemplo, o tombo que Gessinger levou no início de sua carreira nos Engenheiros do Hawaii, naquele que foi o primeiro show grande que fizeram (segundo contam, não sei se o foi de fato). E, lá no meio do show, aquele que deveria ser o desastre foi apenas um pequeno detalhe, pois a platéia já estava dominada pelo que realmente importava: a arte. Nando Reis já admitiu ficar nervoso até hoje antes dos shows.
É engraçado, mas isso meio que iguala as pessoas. Coloca todos no mesmo barco. Quão poderosas são as estréias! Este talvez seja um dos poucos medos que posso dizer ser bonito. Vamos controlá-lo, sim, para que não estrague o que temos que fazer, mas deixemos que aconteça para que a emoção tenha o seu espaço e para que possa servir de lição ou, ao menos, nos lembre que somos humanos.
Sentir, emocionar, admirar.
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