sábado, 6 de novembro de 2010

A outra parte e sua magia

(Foto: Getty Images)

De todas as coisas que não podemos explicar, uma das mais intrigantes no meio artístico é o fã. Difícil entender o que se passa na cabeça dos fãs. E enquanto fã, é difícil explicar o motivo de eu o ser também. Alguns motivos eu tenho, outros me vejo obrigado a responder: “eu gosto e pronto”.


Aí fico lendo as notícias de pessoas que ficam dias e dias numa fila de ingresso para garantir a ida a um show do seu grande ídolo e penso: “mas por que alguém se sujeita a isso para ver de longe um cantor, sabendo que não terá contato nenhum com ele e que o mesmo nem sabe da sua existência? ". Não sei se algum psicólogo da vida já estudou isso, mas é um comportamento intrigante... e esquisito.


Já passei por algo parecido, em 2005, quando visitei o Rio pela primeira vez, vindo para assistir ao show do Pearl Jam. Na verdade eu nem era tão fã deles na época, mas minha esposa era. Por um acaso do destino não pegamos fila e entramos antes de qualquer outra pessoa no local do show (futuramente conto essa história em detalhes). Em compensação esperamos horas e horas e horas para assisti-lo. E quando os portões abriram para todos foi como abrir o portão do inferno! Ficamos de 15h00 até 21h00 espremidos entre montanhas de pessoas, literalmente sem se mexer até o show começar! Vou dizer que só valeu a pena porque estávamos na primeira fileira. Prometi que nunca mais faria isso! Quer saber? Hoje, passados 5 anos, até que eu faria de novo!


Essa relação misteriosa entre ídolos e fãs se sustenta num ponto: distância. O fã quer chegar perto, conhecer, conversar, casar (ao mais exagerado ou exagerada) e o fator “impossibilidade” alimenta isso e mantém o encanto vivo. A verdade é que se conhecesse, desencantaria; descobriria o quão comum o ídolo é. Talvez até se sentisse um idiota por fazer o que faz. De repente, é melhor deixar tudo como está. Tem coisas que são feitas para não se conhecer. Assim, o ídolo fica contente, no seu espaço, e o fã continua encantado criando razões para admiração que, no final das contas, se tratando de arte, pode ter motivos abstratos sem o menor compromisso. E posso dizer que essa relação ídolo-fã compõe a arte, como se fosse o último acorde da música, a última palavra da letra, o último suspiro da melodia.


Bom fim de semana a todos!

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