Cassia Eller. (Foto: Marco Aurelio Olimpio) |
Vou falar um pouco do rock nacional. Mais um pouco, na verdade. Falei certa vez sobre o que foi o cenário nacional nos anos 70 (se não leu na época, clique aqui); dessa vez vou falar dos anos 90. Sobre isso não será difícil falar, já que foi a minha época de formação cultural de música. Passei parte da infância e adolescência nessa época e, devo admitir, sinto saudades.
Raul Seixas compôs uma música chamada Anos 80, onde seu refrão diz: “Ei, anos 80! Charrete que perdeu o condutor! Ei, anos 80! Melancolia e promessas de amor!” – música que questiona o que seria da música dos 80 frente à avalanche cultural que foi a dos 70. Eu concordo que os anos 70 foram fantásticos para o rock, mas hoje em dia (e nem sempre pensei assim) não tiro a importância dos 80 nem de longe. E estou falando isso porque os anos 90 aproveitaram muito os sucessos que os 80 lançaram. Acho que no Brasil isso foi ainda mais forte do que no resto do mundo. Basta perguntar a qualquer pessoa que viveu essa época (falo dos 90) quais eram as bandas nacionais boas: dentre outras, citarão Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Lulu Santos, Barão Vermelho, Cazuza, Titãs, etc. E o que acontece é que na verdade todas essas que citei foram herança dos anos 80.
Skank (Foto: Dynamite Online) |
Vamos para alguns exemplos disso: Ira! nasceu em 1981, fez sucesso em 1986 com Envelheço na Cidade, Dias de luta e Flores em você. Titãs é de 1982 e tiveram o seu auge em 1987, com o disco Cabeça Dinossauro. A crítica apoiava muito eles nessa época. Quando as vendas caíram, se reergueram com o Acústico da MTV em 1997, que muitos consideram o último grande trabalho deles. Eu estou nesse “muitos” também. Ultraje a Rigor nasceu em 1980 e ficaram famosos em 1985. Legião Urbana é de 1982 e três anos depois, estouraram no Brasil. Fizeram poucos shows e, na verdade, em meados dos 90 abandonaram os palcos (seu último show foi em 1995). Barão Vermelho nasceu em 1981 e ficaram conhecidos pela massa em 1983 para 84. Por sinal, embora tivessem um grande contato (o pai do Cazuza) a mídia demorou a aceitá-los. Por ironia, a mesma mídia considerou-os a melhor banda de rock em 1991. Cazuza saiu do Barão em 85 e seguiu carreira solo até morrer, em 90. Nenhum de Nós é de 1986 e fizeram sucesso ainda em 1989 com a versão de Starman, de David Bowie. Nós a conhecemos como Astronauta de Mármore. Posso citar ainda Sepultura, que é de 1984, Lulu Santos, Marina... todos revelados nos anos 80, mas que consideramos muitas vezes (e erroneamente) frutos dos anos 90.
Essa herança não é ruim. Eu considero maravilhosa. Foi uma grande bagagem musical que produzimos antes da tragédia que veio a ser depois de 2000. E acho que muita dessa herança foi divulgada pelo canal MTV, que nasceu nos anos 90, e virou uma alavanca de sucesso para artistas da época. E como tinha foco no rock, foi perfeito.
Então, o início mesmo dos 90 foi um reflexo (e que reflexo!) dos 80, mas pouco antes da metade da década, já revela seus artistas. E veio Cassia Eller que, sim, já tocava timidamente desde 1981, mas seu primeiro álbum, Cassia Eller, foi lançado em 90 e a conduziu ao estrelato. Em 1994 estourava uma banda que mudou a cara do rock nacional: Raimundos. Embora muitos considerem o Planet Hemp o responsável pela massificação do rock pesado no Brasil, minha lembrança é do Raimundos inaugurando isso. E abriu portas para o que veio depois; cavou espaço para o instrumental pesado, para os traços fortes do HC e do punk rock sem ser vetada pela crítica e mídia. Era o que os jovens da época queriam ouvir. E nessa onda veio, sim, o Planet Hemp, que só estourou um ano depois, em 1995; veio o Charlie Brown Jr, fazendo sucesso em 1997.
Raimundos, com a formação de 1992. |
Nessa época, os rebeldes se debandaram para esse tipo de rock. Eu curtia, mas ainda ficava com as baladas e o som mais leve em paralelo porque também me atraía. E os anos 90 não deixaram isso para trás, não. Revelou a banda O Rappa, de 93 (mas estourou mesmo em 96). Skank já vinha fazendo sucesso desde 1993. Engraçado é que o disco deles que eu mais gosto, Cosmotron, foi um dos menos vendidos deles até hoje, mas tudo bem. A primeira música de sucesso que lembro ter ouvido nas rádios foi In(dig)nação. E quem não se lembra do Pato Fu? Acho que foi a que veio com o som mais leve nessa época, mas apostava em ritmos e efeitos sonoros meio que experimentais e isso deu certo para eles. Com um som mais pop, veio o Jota Quest; Jay Quest no início. Encontrar Alguém estourou em 1996. Fácil era obrigatória para quem começava a tocar violão na época; era de 1998. Pegando a rebarba dos anos 90, em 1999 estourou a banda Los Hermanos, com Anna Julia, hit que a própria banda renegou depois. Sua postura também foi um tanto quanto rebelde e pareciam mais confortáveis no ambiente underground. Convenhamos que, depois de ganhar uma “baba”, é mole dizer que não queriam isso e que Anna Julia não presta e tal, mas tudo bem. Pelo menos conseguiram dinheiro para fazer o que queriam depois. Mesmo assim, os admiro enquanto pessoas e suas atitudes. O som nunca fez muito a minha cabeça, mas foi uma banda que consolidou um público fiel a níveis comparados com Legião Urbana e Raul Seixas, por exemplo. Na faculdade, lembro de pessoas que eram fãs quase “religiosas” deles (e olha que já era lá para 2002, 2003). Isso é legal (para eles, claro).
Ah, só de falar dá saudades! Tempo bom! Posso resumir dizendo que os anos 90 foram abençoados por terem os artistas dos 80 ainda na ativa e a todo vapor como incentivadores e exemplos do rock nacional e conseguiram revelar ótimos artistas e em estilos variados: pop, balada, HC, punk rock. Nem citei os rappers como Gabriel Pensador, Racionais MC e afins, mas também são da época e fizeram bons trabalhos! Vou dizer que 80 e 90 foram épocas muito valiosas para o rock do Brasil. Gostaria muito de ver movimentos como esse voltar a acontecer! Quem sabe, não é? Encerro com 3 vídeos, dentre tantos que poderia colocar aqui!
Divirtam-se! Relembrem-se! Espero que sintam a mesma emoção boa que senti escrevendo este post! Obrigado a todos!
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