quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Das mentiras coletivas

Olha que curioso: de todas as situações desagradáveis que uma pessoa pode sofrer, não fisicamente, mas no aspecto de relações sociais, uma das que mais vejo ser citada é “ser enganada”. A mentira é uma das coisas que mais irrita o outro. Agora, é de espantar que só prestemos atenção a ela quando nos é trazida em forma de diálogo; ou seja, quando estamos conversando com alguém e este nos mente. E isso dá um sentimento de repulsa terrível. Ok. Mas por que aceitamos a mentira que nos é imposta desde sempre pelos mais variados meios de comunicação? TV, escola, livros, grupo de pessoas... Ei, eu não estou acusando todos os meios! Daqui a pouco, vão dizer “Pô, o Leo está mandando jogar os livros fora!”. Não é isso.

Rebobinando: existem as mentiras individuais: aquelas que uma pessoa vem, conta, e cedo ou tarde percebemos. Dá raiva, não? Ok. Só que existem também as chamadas mentiras coletivas: aquelas que foram formadas por consenso de pessoas. Estas são as mais perigosas, porque podemos não perceber jamais! E é tão alienante que a verdade passa em nossa cara e mesmo assim continuamos grudados na mentira como se esta fosse um talismã, um porto seguro... ou qualquer coisa do tipo.



Observe: crescemos sendo treinados a fazer a mesma coisa que nossos pais fizeram, para os mesmos motivos que fizeram, com os mesmos conceitos de vida que tiveram... por quê? Por que a vida é assim! E eu pergunto, quem disse? Quando pequenos, vamos à escola, que diz que precisamos viver em sociedade e, no segundo grau, começa a cobrança para que o pobre adolescente, que mal sabe o que é certo ou errado, escolha uma carreira para trabalhar o resto da vida... MENTIRA! Isso é uma mentira coletiva! Estamos sendo enganados desde pequenos de que esse é o caminho natural da vida! E não é! Pode ser, mas não é! O que me incomoda não é a pessoa seguir esse caminho (eu mesmo o segui), mas fazer isso achando que é o curso natural da vida. Putz... existem tantos caminhos! E é injusto fechar os olhos para isso!

Por que disse que não percebemos? Porque todo mundo conhece pessoas que vez ou outra seguiram outros caminhos... estão ali, ao nosso alcance e mesmo assim não tiramos da cabeça que o certo é o mesmo blábláblá de sempre: colégio, casa, ser popular no colégio, ter amigos, fazer vestibular, fazer faculdade, de preferência namorar lá (aluno de faculdade tem que ter namorada séria), trabalhar, casar, ter filhos, ser promovido, ter bens e bens e bens...

“Pô, o Leo está dizendo que é ruim estudar para ganhar a vida!” Não, cara pálida! Eu estou dizendo que é ruim acreditar nisso como verdade de vida enquanto é só uma opção! E, além disso, é só um exemplo dentre tantos. Estou falando do perigo de receber conceitos prontos de certo ou errado, de ganhar a vida ou ser fracassado, de vida boa e vida ruim, de felicidade e infelicidade. É disso tudo que estou falando. De como achamos que estamos sendo “espertos” e somos nutridos de mentiras coletivas todos os dias, sem notar. E abaixamos a cabeça e seguimos sem enxergar o que está passando ao nosso lado. Isso, sim, é de dar raiva!

Quer seguir o protocolo? Siga. Como disse, eu mesmo o faço. Mas faça isso consciente de que é uma escolha, e não a verdade universal. Aliás, esse papo de verdade universal é uma grande balela. Vou encerrar o post com uma música de um dos melhores artistas que o Brasil já teve: Raul Seixas. Essa não é das mais conhecidas, mas prestem atenção na letra. É simples, irônica, mas cabe bem ao texto de hoje:




Ampliar a visão, duvidar, questionar, romper o óbvio.


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