domingo, 21 de novembro de 2010

Do rock nacional e os 90



Cassia Eller. (Foto: Marco Aurelio Olimpio)
Vou falar um pouco do rock nacional. Mais um pouco, na verdade. Falei certa vez sobre o que foi o cenário nacional nos anos 70 (se não leu na época, clique aqui); dessa vez vou falar dos anos 90. Sobre isso não será difícil falar, já que foi a minha época de formação cultural de música. Passei parte da infância e adolescência nessa época e, devo admitir, sinto saudades.

Raul Seixas compôs uma música chamada Anos 80, onde seu refrão diz: “Ei, anos 80! Charrete que perdeu o condutor! Ei, anos 80! Melancolia e promessas de amor!” – música que questiona o que seria da música dos 80 frente à avalanche cultural que foi a dos 70. Eu concordo que os anos 70 foram fantásticos para o rock, mas hoje em dia (e nem sempre pensei assim) não tiro a importância dos 80 nem de longe. E estou falando isso porque os anos 90 aproveitaram muito os sucessos que os 80 lançaram. Acho que no Brasil isso foi ainda mais forte do que no resto do mundo. Basta perguntar a qualquer pessoa que viveu essa época (falo dos 90) quais eram as bandas nacionais boas: dentre outras, citarão Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Lulu Santos, Barão Vermelho, Cazuza, Titãs, etc. E o que acontece é que na verdade todas essas que citei foram herança dos anos 80.

Skank (Foto: Dynamite Online)
Vamos para alguns exemplos disso: Ira! nasceu em 1981, fez sucesso em 1986 com Envelheço na Cidade, Dias de luta e Flores em você. Titãs é de 1982 e tiveram o seu auge em 1987, com o disco Cabeça Dinossauro. A crítica apoiava muito eles nessa época. Quando as vendas caíram, se reergueram com o Acústico da MTV em 1997, que muitos consideram o último grande trabalho deles. Eu estou nesse “muitos” também. Ultraje a Rigor nasceu em 1980 e ficaram famosos em 1985. Legião Urbana é de 1982 e três anos depois, estouraram no Brasil. Fizeram poucos shows e, na verdade, em meados dos 90 abandonaram os palcos (seu último show foi em 1995). Barão Vermelho nasceu em 1981 e ficaram conhecidos pela massa em 1983 para 84. Por sinal, embora tivessem um grande contato (o pai do Cazuza) a mídia demorou a aceitá-los. Por ironia, a mesma mídia considerou-os a melhor banda de rock em 1991. Cazuza saiu do Barão em 85 e seguiu carreira solo até morrer, em 90. Nenhum de Nós é de 1986 e fizeram sucesso ainda em 1989 com a versão de Starman, de David Bowie. Nós a conhecemos como Astronauta de Mármore. Posso citar ainda Sepultura, que é de 1984, Lulu Santos, Marina... todos revelados nos anos 80, mas que consideramos muitas vezes (e erroneamente) frutos dos anos 90.

Essa herança não é ruim. Eu considero maravilhosa. Foi uma grande bagagem musical que produzimos antes da tragédia que veio a ser depois de 2000. E acho que muita dessa herança foi divulgada pelo canal MTV, que nasceu nos anos 90, e virou uma alavanca de sucesso para artistas da época. E como tinha foco no rock, foi perfeito.

Então, o início mesmo dos 90 foi um reflexo (e que reflexo!) dos 80, mas pouco antes da metade da década, já revela seus artistas. E veio Cassia Eller que, sim, já tocava timidamente desde 1981, mas seu primeiro álbum, Cassia Eller, foi lançado em 90 e a conduziu ao estrelato. Em 1994 estourava uma banda que mudou a cara do rock nacional: Raimundos. Embora muitos considerem o Planet Hemp o responsável pela massificação do rock pesado no Brasil, minha lembrança é do Raimundos inaugurando isso. E abriu portas para o que veio depois; cavou espaço para o instrumental pesado, para os traços fortes do HC e do punk rock sem ser vetada pela crítica e mídia. Era o que os jovens da época queriam ouvir. E nessa onda veio, sim, o Planet Hemp, que só estourou um ano depois, em 1995; veio o Charlie Brown Jr, fazendo sucesso em 1997.

Raimundos, com a formação de 1992.
Nessa época, os rebeldes se debandaram para esse tipo de rock. Eu curtia, mas ainda ficava com as baladas e o som mais leve em paralelo porque também me atraía. E os anos 90 não deixaram isso para trás, não. Revelou a banda O Rappa, de 93 (mas estourou mesmo em 96). Skank já vinha fazendo sucesso desde 1993. Engraçado é que o disco deles que eu mais gosto, Cosmotron, foi um dos menos vendidos deles até hoje, mas tudo bem. A primeira música de sucesso que lembro ter ouvido nas rádios foi In(dig)nação. E quem não se lembra do Pato Fu? Acho que foi a que veio com o som mais leve nessa época, mas apostava em ritmos e efeitos sonoros meio que experimentais e isso deu certo para eles. Com um som mais pop, veio o Jota Quest; Jay Quest no início. Encontrar Alguém estourou em 1996. Fácil era obrigatória para quem começava a tocar violão na época; era de 1998. Pegando a rebarba dos anos 90, em 1999 estourou a banda Los Hermanos, com Anna Julia, hit que a própria banda renegou depois. Sua postura também foi um tanto quanto rebelde e pareciam mais confortáveis no ambiente underground. Convenhamos que, depois de ganhar uma “baba”, é mole dizer que não queriam isso e que Anna Julia não presta e tal, mas tudo bem. Pelo menos conseguiram dinheiro para fazer o que queriam depois. Mesmo assim, os admiro enquanto pessoas e suas atitudes. O som nunca fez muito a minha cabeça, mas foi uma banda que consolidou um público fiel a níveis comparados com Legião Urbana e Raul Seixas, por exemplo. Na faculdade, lembro de pessoas que eram fãs quase “religiosas” deles (e olha que já era lá para 2002, 2003). Isso é legal (para eles, claro).

Ah, só de falar dá saudades! Tempo bom! Posso resumir dizendo que os anos 90 foram abençoados por terem os artistas dos 80 ainda na ativa e a todo vapor como incentivadores e exemplos do rock nacional e conseguiram revelar ótimos artistas e em estilos variados: pop, balada, HC, punk rock. Nem citei os rappers como Gabriel Pensador, Racionais MC e afins, mas também são da época e fizeram bons trabalhos! Vou dizer que 80 e 90 foram épocas muito valiosas para o rock do Brasil. Gostaria muito de ver movimentos como esse voltar a acontecer! Quem sabe, não é? Encerro com 3 vídeos, dentre tantos que poderia colocar aqui!

Divirtam-se! Relembrem-se! Espero que sintam a mesma emoção boa que senti escrevendo este post! Obrigado a todos!









sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um conto de Caroline


Estou há tempos com uma música que não me sai da cabeça: Sweet Caroline, do Neil Diamond. Sendo sincero, nunca fui exatamente um fã do Neil Diamond e, inclusive, conheci a música primeiro para depois saber que era dele, mas tudo bem. Não vem ao caso.

Parênteses: É incrível como esse lance de ficar com música na cabeça pode durar semanas e ainda mais incrível como começa a ocorrer uma série de perseguições astrais, cósmicas e afins que fazem com que a gente comece a ouvi-la em rádios, TV ou até em pessoas que passam por nós cantando o diabo da música em questão! Isso deveria ser estudado!

Voltando: como não consegui ignorar e nem mudar a estação da minha rádio mental, me rendi. Fui prestar a atenção na Sweet Caroline e descobri nesta uma bela música, daquelas letras singelas que beiram o cafona, mas conseguem ser tão bem musicadas e interpretadas que viram uma canção romântica aceitável. E só aceitável porque roqueiro tem a mania estereotipada de ter que rejeitar esse tipo de canção. Como não curto esse tipo de regrinha (nem mesmo as da rebeldia) prefiro admitir que é uma música muito bonita!

Existe uma história por trás dela. Há quem pense, muito equivocadamente, que ela é recente, anos 90. Isso tem um motivo: nessa época ela começou a ser tocada num dos maiores estádios de Baseball dos Estados Unidos: Boston’s Fenway Park. Para ser mais exato, Sweet Caroline tornou-se um hino informal do time Boston Red Sox (ou só Red Sox, como os americanos costumam chamar). A partir daí, essa música passou a tocar em torneios universitários de lá e até hoje não se desvincula de eventos esportivos americanos. Bom, na verdade mesmo, essa música data de Setembro de 1969 (muuuito antes de ser hino do Red Sox, então) e, por palavras do próprio Neil Diamond, teria sua fonte de inspiração na filha do presidente John Kennedy. Dizem, inclusive, que Neil cantou Sweet Caroline para a Caroline em pessoa em 2007 quando esta completou 50 anos de idade.

Verdade ou não, a música foi e ainda é um sucesso, dentre outros, de Neil Diamond e já foi bastante tocada por artistas diversos, inclusive, Elvis Presley na sua turnê de 70. Aí estava eu assistindo um seriado que está a todo vapor na TV americana (acho que por aqui também), por insistência da minha mulher, e que música um dos personagens canta? A tal da Sweet Caroline. Só para não deixar sair da cabeça! Tudo bem. Eu realmente gosto dela. Para quem está curioso em saber que seriado é esse, trata-se de um seriado teen chamado Glee (que tem seu lado positivo, para minha surpresa), mas deste eu falarei futuramente.



Por hoje é só.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Da inspiração, seu excesso e sua falta

(Foto: blog Verso & Prosa)


Sabe aquelas coisas que são tão corriqueiras a ponto de não nos despertarem a curiosidade de como surgem, de onde vêm, de que são feitas? Pois devo dizer que a música é uma delas. Se você acha que reflete sobre a música só porque parou para entender a letra, se identificou ou ela te sensibilizou, saiba que há mais por trás disso.

O primeiro elemento da música, não consigo pensar diferente, é a inspiração. É onde tudo começa. Muitas vezes ouço músicas belíssimas e me pego perguntando: “Puxa, de onde esse cara tirou essa idéia?”. Claro que isso não é tudo para que a música seja boa, mas, como disse, é o primeiro passo. E, vale lembrar, estou falando das músicas sinceras que, garanto, são as melhores que já ouvimos.

Temos músicas que falam sobre tudo! Desde metafísica, até poemas, até o dia-a-dia. Se podemos falar de tudo, porque os músicos não estão compondo a todo o momento? Porque de nada adianta ter assunto a falar se a inspiração não fermenta a forma de expressão. Querem um exemplo? Ouça “Formato Mínimo”, do Skank. É uma das músicas com assunto mais mundano que conheço... e ao mesmo tempo, uma das mais poéticas letras que já ouvi. Não há como negar que a inspiração foi fundamental para que a música nascesse daquela forma e, sem ela, talvez fosse só uma música qualquer, sem destaque, sem brilho, sem alma.

Já observei o excesso da inspiração, por exemplo, em momentos finais do saudoso Cazuza, quando promoveu a avalanche de produção musical, claro, já ciente que seriam suas últimas obras. Foi um grande trabalho, mas o problema desse excesso é que as músicas ficam muito parecidas, afinal, são meio que da mesma onda de inspiração. E o que seria do músico na falta de inspiração? É uma das coisas mais angustiantes que pode acontecer. Nem vou entrar no mérito daqueles que têm contrato a cumprir, porque é outra história, mas a inspiração, dramática por natureza, causa o sentimento de solidão na sua ausência e, mais que isso, deixa a incerteza se vai voltar ou não. E volta, triunfalmente. São como ondas do mar. Cedo ou tarde volta.

É esquisito falar de algo tão abstrato e pessoal, mas o que me motivou a refletir sobre a inspiração foi justamente a percepção de que estava em um momento de ausência dela. Como seria escrever sem inspiração? Qual seria o resultado disso? Essas eu vou deixar para vocês responderem.

Inspiração, emoção, motivação. Boa semana a todos nós!


terça-feira, 9 de novembro de 2010

EMA: um quase mais do mesmo

Lady Gaga (Foto: MTV)

Hoje vou comentar sobre o EMA 2010. Para quem não sabe essa premiação é a MTV Europe Music Awards, semelhante ao VMA e VMB. Ocorreu ontem em Madri. Na verdade, para quem assistiu ao VMA 2010, não houve tantas surpresas. Não vou refazer as críticas que fiz quando falei do VMA (se você não leu o post na época, confira clicando aqui), até mesmo para não ser repetitivo.

A grande vencedora, tal qual no prêmio americano, foi Lady Gaga, com 3 prêmios (artista feminina, POP, e melhor música por Bad Romance). As categorias são um pouco diferentes do que o VMA e em menor número também e creio que só por isso Gaga teve apenas 3 vitórias. Ela foi a única que ganhou mais de um prêmio. Nesse ponto acho até legal. Como ouvinte ou telespectador (ou qualquer coisa do tipo) é legal ver as premiações bem dividas mesmo sabendo, claro, que para o artista quanto mais, melhor.

Vou discordar da escolha do melhor artista masculino, que foi Justin Bieber, por motivos totalmente particulares e restritos (confesso!): não engulo esse garoto! Não há Cristo que me convença que ele pode ganhar um prêmio de MELHOR artista! Desculpem-me, mas jamais apoiarei isso. Enfim, eu sei que não teria como ser diferente pelo ano que foi. E se formos considerar o senso comum e os guias da mídia, ele teve destaque mesmo. Putz. Próximo!

 
Paramore (Foto: MTV)
Eminem ganhou como artista Hip Hop. No VMA levou o melhor vídeo de Hip Hop, então, acho que foi equivalente. Ok. Que seja. Não sou fã de Hip Hop, mas sei que ele faz bem o que se propõe a fazer. Pula!

Gostei da premiação do Paramore, que ganhou como artista alternativo. Na verdade mesmo eu gostei de terem ganhado alguma coisa porque a banda é boa, a garota tem talento e o estilo deles é legal. Conseguiram sair pela tangente do estilo “teen manjado” de hoje em dia. Só tenho que falar uma coisa: a banda pode cheirar à, mas não é alternativa. Ainda assim, bom prêmio e o nome dele, inclusive, é bem rock e tenho certeza que essa idéia agrada aos seus vencedores. 

Bon Jovi (Foto: Reuters)
Katy Perry ganhou o que poderia ganhar mesmo: melhor clipe, por California Gurls. É realmente bom, embora a música não seja das melhores. De qualquer forma, merecido. Não entendi o prêmio de Ícone Global para Bon Jovi, mas tudo bem. Fora isso os ganhadores também foram: 30 Seconds to Mars (artista rock, de novo), Kesha (artista revelação), Marco Mengoni (artista europeu), Linking Park (melhor show), Tokyo Hotel (apresentação em palco), Shakira (prêmio “free your mind”). O prêmio de Shakira foi por suas ações humanitárias. Bem legal, mas longe de ser reconhecimento musical.

Posso concluir, então, dizendo que gostei de Lady Gaga ser a vencedora. É indiscutível que foi a artista do ano, realmente. Além disso, parabenizo o Paramore também! Gostei. E respiro um pouco aliviado pelo prêmio revelação não ter ido para Justin Bieber. Temi por isso. Deixa a tal da Kesha ser feliz. Menos mal. E deixa Lady Gaga como única a ganhar mais de uma vez. Menos mal, também.

Não vou encerrar com o vídeo da grande vencedora por já ter feito isso no post do VMA, não por desmerecer, ok? Vou aproveitar, então, para homenagear a banda Paramore: 



Divirtam-se!

sábado, 6 de novembro de 2010

A outra parte e sua magia

(Foto: Getty Images)

De todas as coisas que não podemos explicar, uma das mais intrigantes no meio artístico é o fã. Difícil entender o que se passa na cabeça dos fãs. E enquanto fã, é difícil explicar o motivo de eu o ser também. Alguns motivos eu tenho, outros me vejo obrigado a responder: “eu gosto e pronto”.


Aí fico lendo as notícias de pessoas que ficam dias e dias numa fila de ingresso para garantir a ida a um show do seu grande ídolo e penso: “mas por que alguém se sujeita a isso para ver de longe um cantor, sabendo que não terá contato nenhum com ele e que o mesmo nem sabe da sua existência? ". Não sei se algum psicólogo da vida já estudou isso, mas é um comportamento intrigante... e esquisito.


Já passei por algo parecido, em 2005, quando visitei o Rio pela primeira vez, vindo para assistir ao show do Pearl Jam. Na verdade eu nem era tão fã deles na época, mas minha esposa era. Por um acaso do destino não pegamos fila e entramos antes de qualquer outra pessoa no local do show (futuramente conto essa história em detalhes). Em compensação esperamos horas e horas e horas para assisti-lo. E quando os portões abriram para todos foi como abrir o portão do inferno! Ficamos de 15h00 até 21h00 espremidos entre montanhas de pessoas, literalmente sem se mexer até o show começar! Vou dizer que só valeu a pena porque estávamos na primeira fileira. Prometi que nunca mais faria isso! Quer saber? Hoje, passados 5 anos, até que eu faria de novo!


Essa relação misteriosa entre ídolos e fãs se sustenta num ponto: distância. O fã quer chegar perto, conhecer, conversar, casar (ao mais exagerado ou exagerada) e o fator “impossibilidade” alimenta isso e mantém o encanto vivo. A verdade é que se conhecesse, desencantaria; descobriria o quão comum o ídolo é. Talvez até se sentisse um idiota por fazer o que faz. De repente, é melhor deixar tudo como está. Tem coisas que são feitas para não se conhecer. Assim, o ídolo fica contente, no seu espaço, e o fã continua encantado criando razões para admiração que, no final das contas, se tratando de arte, pode ter motivos abstratos sem o menor compromisso. E posso dizer que essa relação ídolo-fã compõe a arte, como se fosse o último acorde da música, a última palavra da letra, o último suspiro da melodia.


Bom fim de semana a todos!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A revolução do lado B (mas não é bem verdade)


(Foto: Getty Images)

Lembro que, certa vez, entrei numa loja, então chamada Mesbla, despretensiosamente e me deparei com um banner divulgando liquidação de cd. Era o último suspiro da loja. Era uma oportunidade imperdível. Lá comprei um cd de Raul Seixas, um dos meus artistas favoritos, que há muito procurava. Que sorte! Lembro ainda de ler em bancas revistas como Rolling Stone (ou outra similar) junto com amigos para saber as novidades do meio musical; comprar revistas de cifras de música para aprender a tocar as músicas famosas. Nem faz tanto tempo assim.

Lá para o segundo grau ou início da faculdade começavam a surgir as bandas independentes numa pretensão de gravar cd, bater de porta em porta nos lugares, tentar vender uns 2000 CDs para, quem sabe, com enorme insistência ganhar um segundo de atenção de algum produtor e quem sabe uma vaguinha na tão sonhada indústria fonográfica.

(Foto: Getty Images)
Vi nascer, então, o advento mais democrático (e perigoso) que podia imaginar: divulgação via internet. Não sei se estou enganado, mas foram espaços como o Trama Virtual que deram a faísca para o que veio a ser a autonomia das bandas independentes. Sei que artistas como o Lobão foram pioneiros em se sustentar de forma independente, mas o que veio a seguir foi ainda maior: a mudança na forma de fazer música. Aí veio a MP3, os programas de compartilhamento de arquivos (quem não se lembra do Napster??) e tudo ficou mais fácil. Os músicos continuavam a gravar os seus CDs. Confesso que, daquelas bandas preferidas, eu ainda assim fazia questão de comprá-los. A indústria fonográfica foi caindo, a pirataria ficou mais acessível... mas isso não foi tudo.

O processo de mudança de produção de música estava apenas começando. Após o compartilhamento de MP3, vivenciamos o “fenômeno Youtube”. Agora, além de facilidade de acesso às músicas, os vídeos entravam na mesma panela. Era o fim do velho modelo (embora a indústria não dê o braço a torcer até hoje). A meta das bandas novas agora, diferente da minha época, não é mais gravar um cd, não é mais ensaiar para tocar nas pequenas e alternativas casas de show da cidade... agora é dedicar-se a produzir um bom vídeo e divulgar nos tantos sites de relacionamento que existem, blogs, fotoblogs, twitter... tantas ferramentas!

(Foto: Getty Images)
Malu Magalhães, a menina prodígio como disseram, lançou-se assim. Na real acho que todas essas bandas da geração atual o fizeram também. E a ordem da produção inverteu: agora a banda primeiro faz sucesso, primeiro vira grande para depois gravar um cd. E isso ainda é conservadorismo porque, a meu ver, nem é mais necessário. Hoje é mais fácil ouvir o que se quer, conhecer bandas diferentes, integrar as mídias. E é tão mais fácil também de colocar-se em evidência para um número, antes, inimaginável de pessoas. E com isso os parâmetros de qualidade foram para o saco junto com a indústria fonográfica. Eles ainda existem, mas é tanta gente aparecendo, e é tão prático, que ter conteúdo já não é mais um fator essencial. Ter talento já não é mais um fator tão importante (embora seja sempre admirado). A criatividade aumentou o passe em 1000%, mas o do talento caiu na mesma proporção.

Falemos, enfim, do perigo disso tudo: a criatividade é um momento; o talento é uma constância. Aparecer na janela da fama ficou mais fácil; com uma atitude criativa, é possível (ao menos bem mais do que antigamente). Porém, sem o talento para sustentar, a próxima atitude criativa vinda de outra parte qualquer, vai desviar o olhar de todos de novo. E assim está a mídia da música de hoje: desviando o olhar a todo momento a cada “explosão” criativa que alguém dá na internet. Tão mais fácil de aparecer, tão mais difícil de manter. E agora devo concluir que, ao contrário do que falei no início do texto, isso não é um advento democrático, mas uma ilusão disso.

(Foto: Getty Images)
Como um perseguidor do saldo positivo, devo falar que, apesar disso tudo, o lado bom da “nova ordem musical” é de fato dar chance a mais pessoas divulgarem o seu trabalho para outras tantas pessoas. Só gostaria que as bandas realmente boas fossem as beneficiadas desse movimento. E talvez a culpa da falta de qualidade do nosso mainstream musical seja nossa, os ouvintes. Nós precisamos estabelecer os critérios agora, e não mais os produtores musicais. Valorizemos, então, a boa música, a boa letra, o talento. Vamos, sim, dar espaço às bandas independentes, mas as boas, as que merecem!

Por que escrevi isso justamente no Dia de Finados? Esta eu não responder; fica subentendido. Foi um texto deveras extenso, mas não havia como ser diferente pelo tema que é. Obrigado pela atenção. E tenho dito.



segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Do looping dos desejos (e seu erro)



(Foto: Getty Images)

Se tem uma característica que é inata do ser humano é o eterno querer. As vontades, os desejos, os anseios. Estamos sempre querendo alguma coisa nova. Às vezes, queremos tanto e quando conseguimos, não nos interessa mais. Às vezes queremos uma mesma coisa diversas vezes durante a vida. Estranho, não?

Particularmente, gosto do querer e acho uma das coisas mais motivadoras que podemos ter. É um excelente combustível. Imagino o quão chato seria a minha vida se em um determinado momento eu visse que nada mais teria a conquistar! E ao mesmo tempo, como eu queria já ter conquistado tudo aquilo que anseio hoje! Talvez outra característica inerente do ser humano seja a contradição emocional. E é no momento em que essas duas características se juntam, que se forma o looping dos desejos.

O looping que estou chamando pode ser ilustrado. Vamos lá: adolescência: formação de personalidade e idéias; confronto ideológico com os pais... o que desejamos: ser logo adultos. Adultos: começo de vida, administrar o pouco dinheiro... qual o novo desejo? Estar na fase mais madura, estável. E depois disso tudo, quando chega esse momento que tanto queríamos quando jovens não há nada que desejemos mais do que... voltar a ser jovem, época em que não havia problemas financeiros, não havia responsabilidades complexas, etc, etc, etc.

É importante manter as vontades vivas sempre. É importante ter o que querer. Isso é sinal de que há otimismo. Esperança. Vida. Para evitar o looping, então, só há uma maneira, uma tentativa: aproveitar todos os momentos. Curtir cada segundo do desejo e do que está fazendo para conseguir vencer. Carpe Diem foi um grande conceito criado. E, particularmente de novo, vejo-me concordando com Jim Morrison diversas vezes: “acredito no excesso”.

Para quem se assustou, o excesso só é ruim se o seu objeto o for. Caso contrário, quem não quer excesso de coisas boas?

Bom feriado a todos!