quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Memórias de sótão


(Foto: Getty Images)

A geração de hoje, e não só ela, mas os aspirantes a músicos em geral que ainda estão na ativa talvez não se toquem do quanto o número de janelas aumentou para expor o seu trabalho. Eu vejo muitos músicos reclamando de falta de oportunidade, de falta de espaço para tocar e tal (e eu acho válido se indignar mesmo! Longe de mim condená-los!), mas não fazem idéia do quanto isso já foi bem mais complicado em tempos onde não havia internet com seus youtube, twitter, my space e similares!

Na verdade, as coisas são tão rápidas que meio que não nos deixa parar e pensar, mas todas essas maravilhas (?) de redes sociais são muito recentes e seu apogeu são os anos 2000. Muitos ídolos pop de hoje se lançaram por meio disso. Não vou citar exemplos porque não é a idéia deste texto; quero que seja mais intimista. E nem vou criticar os dias de hoje ou guerrear sobre quem enfrenta mais problemas, porque eles são particulares de cada época. O que me traz a essas palavras são lembranças e sentimentos.

Querem saber o que era um aspirante a músico de poucos anos atrás? Era o tempo de sobra de estudante ser convertido em horas treinando cifras, na fase em que foi a transição das revistas de bancas para as tablaturas de internet. E ouvia as rádios e TV e, como que representado por Lulu (Minha vida - “e eu queria ir tocar guitarra na TV”), arquitetava planos mirabolantes de como chamar atenção da mídia. Era juntar trocados que nunca sabia ao certo de onde vinham para, junto com os outros amigos (chamávamo-nos de banda), rachar o período do estúdio que, não raro, tinha o preço pechinchado. Era tocar as músicas uma, duas... dez vezes para montar um repertório e gravar uma suada demo.

Só então se tinha um material para começar a procurar um lugar para tocar. Casas de show pequenas que não tinham nada mais do que o espaço para oferecer. Se tivesse sorte, receberia como pagamento algumas cervejas. Eu cheguei a receber 5 cervejas como pagamento uma vez; e, por ironia, pela única pessoa que não precisaria me pagar nada, pois o dono do bar era um grande amigo meu. Enfim, a idéia era tocar no máximo de lugares possíveis para ganhar público, gravar um cd (dessa vez mais completo e produzido) para, quem sabe, tentar uma tão sonhada gravadora – esta mesma que se tornou quase totalmente dispensável hoje em dia.

Sei que tudo isso que estou falando ainda não virou totalmente coisa do passado, mas um dia vai virar. Talvez meus filhos (que ainda não nasceram) duvidem que isso foi assim. Tempos saudosos! Tudo o que eu posso dizer aos aspirantes é: não desistam e aproveitem todas as janelas que se abrirem. As coisas já foram mais difíceis e não são tão fáceis quanto parecem. Ou seja, a estrada não foi de rosas, não é e nem será. As situações mudam, mas os sonhos precisam continuar. A arte sempre precisará dos aspirantes, pois estes serão seus futuros símbolos para as próximas gerações.

PS: esse texto é inspirado em sentimentos, mas nem tudo foi experiência própria. Talvez meus tempos de banda de garagem tivessem sido mais divertidos se fosse. De qualquer forma, seja experiência própria ou de terceiros próximos, são memórias que guardo com carinho.

Um bom dia a todos!




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