Estamos pertos de mais um Reveillon, mais um ano que vai passar, mais algumas páginas da história... a nossa, a deles, a de todos nós; juntos e separados. Não sei por que, mas temos a estranha mania de depositar doses extras de esperança no Ano Novo. Parece que é o abono pelos nossos erros, o perdão de não ter feito o que queríamos no ano que está acabando. Confortável, não?
Vamos imaginar que não houvesse calendário e que a contagem do tempo fosse apenas por, sei lá, pôr-do-sol. Toda a nossa noção de longevidade se resumiria ao pôr-do-sol, tudo seria dia a dia, nossos objetivos seriam mais curtos e nosso tempo de realizá-los também. Nossa urgência aumentaria, nossas banalidades diminuiriam e o ritmo de vida poderia ser bem maior.
Longe disso, pois o calendário está aí de qualquer forma, vamos retomar o raciocínio da fé no próximo ano. Se pudéssemos olhar o Ano Novo como apenas mais um dia, o que aconteceria com as nossas vidas? Continuaríamos errando o que vínhamos errando o ano inteiro? Não ganharíamos o combustível para fazer as mudanças necessárias? Mas, e se o efeito fosse oposto? E se deixássemos de empurrar as mudanças para o próximo ano e fizéssemos imediatamente quando surgisse a sua necessidade? E se o pretendente pedisse a amada em casamento hoje e não em 2011? E se o pintor fizesse a sua mais bela obra hoje? E se o voluntário cuidasse hoje dos necessitados... e não só no ano que vem? E se o músico compusesse a sua melhor canção hoje? E se os políticos implantassem o plano perfeito hoje e não deixassem para o próximo mandato?
E por que não estourar uma champagne hoje e comemorar sua felicidade, sua vida, suas conquistas na hora que der na telha? Para o bem ou para o mal, prefiro que venha logo o que tiver que vir! Quero as emoções imediatas! Não quero deixar para depois o que posso viver agora! Experiências requentadas não me interessam! Proponho as mudanças já! Proponho os planos verdadeiros ao invés das ilusões que as promessas de Ano Novo criam! Proponho um feliz 2011 em todos os seus dias porque é assim que tem que ser! Todos os dias. Todos os dias.
Parabéns aos vitoriosos! Coragem aos que ainda não venceram; o tempo não acabou! Usem o Reveillon para se divertir, que é o grande lado bom disso tudo!
O princípio do rock deve remeter ao final dos anos 40, início dos 50 com artistas como Arthur Big Boy Crudup, Little Richard, Chuck Berry... essa turma. Farei um apanhado especial do rock a médio prazo, mas hoje não é disso que vou falar. Vou falar de um tabu antigo: a idade para se fazer rock.
Não é de hoje que os ídolos do rock são jovens. Conhecemos e temos muitos ídolos já de meia idade ou até mesmo velhos, mas difícil é ver alguém que tenha feito sucesso nessa fase. Nesse ponto não é de se espantar. Vamos comparar com outro mercado qualquer: você deve conhecer gerentes, executivos, presidentes de empresa e afins de idade avançada. Agora, veja se é comum uma pessoa aos 40 entrar para o mercado em algum desses postos. Não. Não rola. Quem chega na hora certa, se mantém pelo tempo que for, mas novatos fora do padrão, estão fora!
Eu aceitaria isso se não se tratasse de música, arte. Sou extremamente contra esses tipos de regras para a arte. A industrialização da arte me enoja! Hoje em dia, então, aqui no Brasil, com essa onda “teen rock” que o dito “Happy rock” trouxe, está cada vez pior. Os adolescentes são os maduros para o rock e, sei lá, músico que passou dos 18, está começando a ficar velho! O que é isso??
Outro dia assisti uma entrevista do Dinho (vocal do Capital Inicial) onde, revoltado, dizia que parecia que agora era proibido adulto tocar rock. Que absurdo! Como o mercado musical pode estipular idade para o rock quando temos no mercado, ao mesmo tempo, um show desses novatos lotando tanto quanto Paul McCartney, Rolling Stones...?? Hoje você observa artistas do rock entrando em desespero quando chegam aos 30 porque a censura não declarada os assombra! Alguns correm para a MPB, Samba, Folk... outros resistem e voltam a ter público de volume underground... e o cenário musical perde bons talentos!
Não esqueçamos que Cazuza brilhou em carreira solo já aos 25 (ou algo em torno disso). Raul o fez já na casa dos 30. Lenine já apareceu no mainstream adulto. Nirvana estourou passados dos 20; Pearl Jam também. Beatles estourou com os integrantes jovens, mas foi na maturidade que fizeram suas melhores músicas.
A arte não pode ter censura. Ela é livre por natureza. Se não for, não é arte. Que toquem os adolescentes, sim! Mas que toquem também os adultos, os coroas, os velhos, até. Por que não? Que a inspiração nos traga as mais variadas opções, os mais loucos sons, o mais amplo (e amplificado) Rock and Roll! Viva a arte! A arte em si!
Em homenagem a este post, encerro ao som de Jethro Tull. Prestem atenção na irônica letra.
Existe um ambiente que pode ser enriquecedor ou fútil para a vida: bar. As conversas que surgem dali podem ter qualquer natureza. Comigo, costumam oscilar por todos os universos, mas foi justamente numa dessas que surgiu a inspiração (e percepção, ainda mais) para o assunto que vou falar.
Nessa era de Twitter e redes sociais em geral a gente acaba tendo mais acesso, para não dizer invadindo, a vida das pessoas ditas celebridades e é comum ouvirmos falar dessas pessoas “tirando um tempo” para cuidar de assuntos pessoais, ou para organizar a vida, etc, etc, etc. Muito legal, muito lindo... mas muito cor-de-rosa para a rotina de nós mortais. Andava me sentindo assim, atolado de coisas, acumulando uma série delas para fazer quando tivesse um tempo. E realmente acreditava que esse tempo viria, mas afinal de contas: quando seria isso? Não seria. Era a mais pura ilusão. Até gosto de fantasiar e me iludir, mas essa é outro tipo, é a ilusão ruim. A minha rotina não mudará, as minhas obrigações não mudarão, então, é preciso achar um tempo para isso.
Agora vamos trazer isso para o universo musical e falar dos undergrounds: esqueça o discurso de quando tiver tempo vai gravar isso, do jeito tal, ensaiar de tal forma... a menos que você seja da turma dos undergrounds que tem tempo livre (não precisa trabalhar durante o dia ou estudar ou os dois para só depois pensar em tocar), esse intervalo de tempo não vai acontecer. É tudo acontecendo ao mesmo tempo e, hoje em dia, parece que o tempo voa mais do que antigamente. (Teriam os relógios sido acelerados?) O caminho: vai demorar mais, mas faça as coisas aos poucos e com freqüência maior do que o idealizado a princípio. Isso vai garantir que “o barco ande” e, embora demore mais, o ideal vai se concretizar.
Nós brasileiros temos a educação cultural de deixar as coisas para depois, para quando der tempo. Essa ilusão só vai prejudicar a você mesmo. O tempo não se preocupa com os sentimentos, os sonhos, os desejos alheios. O tempo, simplesmente, passa.
Estamos próximos do Natal, próximos do fim de ano. Nessa época é comum as pessoas fazerem o chamado “exame de consciência”. Não que isso o seja de fato, mas ao menos buscam listar uma série de coisas que querem mudar na vida para o ano que chegará. Até aí, tudo bem; no país do “deixa para amanhã”, ter um pretexto para adiar ao ano que vem tudo aquilo que você viu durante o ano que precisa mudar, é providencial! Este não é o problema. O problema começa quando a mídia decide que é hora de lucrar com o apelo ao exame de consciência coletivo e aí começam as bondades obrigatórias.
Didaticamente, o espírito natalino toma conta das pessoas quando a primeira propaganda da Coca-Cola é exibida. Ou de algum shopping. Ou coisa do tipo. É tanta propaganda impondo que sejamos bondosos no fim do ano que eu me pergunto: uma vez por ano basta? Parece aquela anistia à moda “santa inquisição”: se confessar, está perdoado. Então, em dezembro, decidimos que precisamos ser bonzinhos uns com os outros, pacientes, tolerantes e a mídia massifica isso tanto que contrariar essa onda soa a constrangimento.
Eu não tenho nada contra a compaixão, a solidariedade... muito pelo contrário. Acho ate legal que pelo menos uma vez ao ano as pessoas parem para pensar nessas coisas, no próximo e tal. Só é meio ridículo que isso seja completamente ignorado por muitos no decorrer do ano. Proponho a inversão: façamos do ano inteiro um Natal e tiremos um dia para a escrotidão inescrupulosa! Seria engraçado. E os benefícios seriam maiores. Vamos, sim, ajudar a quem precisa! Vamos, sim, respeitar o próximo! Vamos, sim, nos importar com o sentimento alheio e desejar a felicidade dos que nos cercam... mas constantemente, espontaneamente, verdadeiramente. Não preciso que a televisão diga o que eu tenho que sentir.
Bondades com hora marcada soam a hipocrisia e isso me irrita! Agora tem algo que me irrita tanto quanto: quem foi que intitulou Ivan Lins e Simone como trilha sonora oficial de dezembro??? Putz! Até prefiro as propagandas de doutrina natalina a ouvir rádios populares nessa época do ano! E se for uma propaganda com trilha sonora de Ivan Lins? Nãããããããoooo!!
Um bom Natal a todos e que o espírito natalino nos ensine coisas boas! O verdadeiro espírito natalino! Compreensão, sinceridade, respeito.
E, para encerrar, música de Natal: Joe Perry tocando Run Rudolph Run de Chuck Berry
Retomando hoje as atividades no Out of the Box e através do próprio post, o motivo da minha ausência. O que acontece é que momentos de turbulência na cidade acabam me tomando muito tempo no trabalho (o do mercado formal) e isso impacta diretamente no meu tempo para o blog e a música em geral. E, para quem acompanhou as notícias, foi um período bem agitado aqui pelo Rio. Exatamente por isso, aproveito para pedir licença aos deuses da música e postar grandes parênteses no blog; vou falar, brevemente espero, da minha impressão disso tudo que aconteceu.
O que acontece no Rio é que há muitas favelas. Essas pessoas das favelas sempre viveram oprimidas, marginalizadas pelos traficantes E pelo governo. Aí criaram o programa de pacificação das favelas, uma grande máquina de locomoção de bandidos. Sim, porque o tráfico não está acabando! O que estão fazendo é desestabilizar os traficantes por algum tempo, apreendendo algumas armas e drogas, e forçando-os a procurar outro “QG” para eles. Ok. Não acho de todo mal, desde que houvesse um plano de ação conjunto a isso para prender de fato esses que fogem e para impedir as drogas de chegar aqui.
Essa guerra ao tráfico que todos divulgaram nas mídias não é fruto de uma ação planejada do governo (infelizmente), mas é motivada por um fato simples: a violência e terror que sempre (SEMPRE) aconteceram na favela chegaram ao asfalto! Chegaram perto da elite! Aí preocupou o governo a ponto de forçar uma invasão numa das maiores favelas do Rio. Os moradores honestos desses lugares sempre estiveram gritando por uma atitude dos nossos governantes! Sempre precisaram disso, mas jamais foram ouvidos! E essa é minha revolta! E este é o motivo do meu protesto! E esses moradores, ainda humildes, davam entrevistas agradecendo a polícia e tal... mal sabendo que não foi por eles, mas pelo jogo político entre governo e elite.
Parabéns, policiais e militares! A ação em si, foi boa, sim. Só lamento que tenha sido necessário chegar a este ponto para que as ditas autoridades tomassem uma atitude enérgica. O Rio já está gritando por isso há muito, muito tempo! O Brasil inteiro na verdade! Gostaria que isso servisse de lição de verdade e não fosse apenas um espetáculo televisivo.
Vou falar um pouco do rock nacional. Mais um pouco, na verdade. Falei certa vez sobre o que foi o cenário nacional nos anos 70 (se não leu na época, clique aqui); dessa vez vou falar dos anos 90. Sobre isso não será difícil falar, já que foi a minha época de formação cultural de música. Passei parte da infância e adolescência nessa época e, devo admitir, sinto saudades.
Raul Seixas compôs uma música chamada Anos 80, onde seu refrão diz: “Ei, anos 80! Charrete que perdeu o condutor! Ei, anos 80! Melancolia e promessas de amor!” – música que questiona o que seria da música dos 80 frente à avalanche cultural que foi a dos 70. Eu concordo que os anos 70 foram fantásticos para o rock, mas hoje em dia (e nem sempre pensei assim) não tiro a importância dos 80 nem de longe. E estou falando isso porque os anos 90 aproveitaram muito os sucessos que os 80 lançaram. Acho que no Brasil isso foi ainda mais forte do que no resto do mundo. Basta perguntar a qualquer pessoa que viveu essa época (falo dos 90) quais eram as bandas nacionais boas: dentre outras, citarão Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Lulu Santos, Barão Vermelho, Cazuza, Titãs, etc. E o que acontece é que na verdade todas essas que citei foram herança dos anos 80.
Skank (Foto: Dynamite Online)
Vamos para alguns exemplos disso: Ira! nasceu em 1981, fez sucesso em 1986 com Envelheço na Cidade, Dias de luta e Flores em você. Titãs é de 1982 e tiveram o seu auge em 1987, com o disco Cabeça Dinossauro. A crítica apoiava muito eles nessa época. Quando as vendas caíram, se reergueram com o Acústico da MTV em 1997, que muitos consideram o último grande trabalho deles. Eu estou nesse “muitos” também. Ultraje a Rigor nasceu em 1980 e ficaram famosos em 1985. Legião Urbana é de 1982 e três anos depois, estouraram no Brasil. Fizeram poucos shows e, na verdade, em meados dos 90 abandonaram os palcos (seu último show foi em 1995). Barão Vermelho nasceu em 1981 e ficaram conhecidos pela massa em 1983 para 84. Por sinal, embora tivessem um grande contato (o pai do Cazuza) a mídia demorou a aceitá-los. Por ironia, a mesma mídia considerou-os a melhor banda de rock em 1991. Cazuza saiu do Barão em 85 e seguiu carreira solo até morrer, em 90. Nenhum de Nós é de 1986 e fizeram sucesso ainda em 1989 com a versão de Starman, de David Bowie. Nós a conhecemos como Astronauta de Mármore. Posso citar ainda Sepultura, que é de 1984, Lulu Santos, Marina... todos revelados nos anos 80, mas que consideramos muitas vezes (e erroneamente) frutos dos anos 90.
Essa herança não é ruim. Eu considero maravilhosa. Foi uma grande bagagem musical que produzimos antes da tragédia que veio a ser depois de 2000. E acho que muita dessa herança foi divulgada pelo canal MTV, que nasceu nos anos 90, e virou uma alavanca de sucesso para artistas da época. E como tinha foco no rock, foi perfeito.
Então, o início mesmo dos 90 foi um reflexo (e que reflexo!) dos 80, mas pouco antes da metade da década, já revela seus artistas. E veio Cassia Eller que, sim, já tocava timidamente desde 1981, mas seu primeiro álbum, Cassia Eller, foi lançado em 90 e a conduziu ao estrelato. Em 1994 estourava uma banda que mudou a cara do rock nacional: Raimundos. Embora muitos considerem o Planet Hemp o responsável pela massificação do rock pesado no Brasil, minha lembrança é do Raimundos inaugurando isso. E abriu portas para o que veio depois; cavou espaço para o instrumental pesado, para os traços fortes do HC e do punk rock sem ser vetada pela crítica e mídia. Era o que os jovens da época queriam ouvir. E nessa onda veio, sim, o Planet Hemp, que só estourou um ano depois, em 1995; veio o Charlie Brown Jr, fazendo sucesso em 1997.
Raimundos, com a formação de 1992.
Nessa época, os rebeldes se debandaram para esse tipo de rock. Eu curtia, mas ainda ficava com as baladas e o som mais leve em paralelo porque também me atraía. E os anos 90 não deixaram isso para trás, não. Revelou a banda O Rappa, de 93 (mas estourou mesmo em 96). Skank já vinha fazendo sucesso desde 1993. Engraçado é que o disco deles que eu mais gosto, Cosmotron, foi um dos menos vendidos deles até hoje, mas tudo bem. A primeira música de sucesso que lembro ter ouvido nas rádios foi In(dig)nação. E quem não se lembra do Pato Fu? Acho que foi a que veio com o som mais leve nessa época, mas apostava em ritmos e efeitos sonoros meio que experimentais e isso deu certo para eles. Com um som mais pop, veio o Jota Quest; Jay Quest no início. Encontrar Alguém estourou em 1996. Fácil era obrigatória para quem começava a tocar violão na época; era de 1998. Pegando a rebarba dos anos 90, em 1999 estourou a banda Los Hermanos, com Anna Julia, hit que a própria banda renegou depois. Sua postura também foi um tanto quanto rebelde e pareciam mais confortáveis no ambiente underground. Convenhamos que, depois de ganhar uma “baba”, é mole dizer que não queriam isso e que Anna Julia não presta e tal, mas tudo bem. Pelo menos conseguiram dinheiro para fazer o que queriam depois. Mesmo assim, os admiro enquanto pessoas e suas atitudes. O som nunca fez muito a minha cabeça, mas foi uma banda que consolidou um público fiel a níveis comparados com Legião Urbana e Raul Seixas, por exemplo. Na faculdade, lembro de pessoas que eram fãs quase “religiosas” deles (e olha que já era lá para 2002, 2003). Isso é legal (para eles, claro).
Ah, só de falar dá saudades! Tempo bom! Posso resumir dizendo que os anos 90 foram abençoados por terem os artistas dos 80 ainda na ativa e a todo vapor como incentivadores e exemplos do rock nacional e conseguiram revelar ótimos artistas e em estilos variados: pop, balada, HC, punk rock. Nem citei os rappers como Gabriel Pensador, Racionais MC e afins, mas também são da época e fizeram bons trabalhos! Vou dizer que 80 e 90 foram épocas muito valiosas para o rock do Brasil. Gostaria muito de ver movimentos como esse voltar a acontecer! Quem sabe, não é? Encerro com 3 vídeos, dentre tantos que poderia colocar aqui!
Divirtam-se! Relembrem-se! Espero que sintam a mesma emoção boa que senti escrevendo este post! Obrigado a todos!
Estou há tempos com uma música que não me sai da cabeça: Sweet Caroline, do Neil Diamond. Sendo sincero, nunca fui exatamente um fã do Neil Diamond e, inclusive, conheci a música primeiro para depois saber que era dele, mas tudo bem. Não vem ao caso.
Parênteses: É incrível como esse lance de ficar com música na cabeça pode durar semanas e ainda mais incrível como começa a ocorrer uma série de perseguições astrais, cósmicas e afins que fazem com que a gente comece a ouvi-la em rádios, TV ou até em pessoas que passam por nós cantando o diabo da música em questão! Isso deveria ser estudado!
Voltando: como não consegui ignorar e nem mudar a estação da minha rádio mental, me rendi. Fui prestar a atenção na Sweet Caroline e descobri nesta uma bela música, daquelas letras singelas que beiram o cafona, mas conseguem ser tão bem musicadas e interpretadas que viram uma canção romântica aceitável. E só aceitável porque roqueiro tem a mania estereotipada de ter que rejeitar esse tipo de canção. Como não curto esse tipo de regrinha (nem mesmo as da rebeldia) prefiro admitir que é uma música muito bonita!
Existe uma história por trás dela. Há quem pense, muito equivocadamente, que ela é recente, anos 90. Isso tem um motivo: nessa época ela começou a ser tocada num dos maiores estádios de Baseball dos Estados Unidos: Boston’s Fenway Park. Para ser mais exato, Sweet Caroline tornou-se um hino informal do time Boston Red Sox (ou só Red Sox, como os americanos costumam chamar). A partir daí, essa música passou a tocar em torneios universitários de lá e até hoje não se desvincula de eventos esportivos americanos. Bom, na verdade mesmo, essa música data de Setembro de 1969 (muuuito antes de ser hino do Red Sox, então) e, por palavras do próprio Neil Diamond, teria sua fonte de inspiração na filha do presidente John Kennedy. Dizem, inclusive, que Neil cantou Sweet Caroline para a Caroline em pessoa em 2007 quando esta completou 50 anos de idade.
Verdade ou não, a música foi e ainda é um sucesso, dentre outros, de Neil Diamond e já foi bastante tocada por artistas diversos, inclusive, Elvis Presley na sua turnê de 70. Aí estava eu assistindo um seriado que está a todo vapor na TV americana (acho que por aqui também), por insistência da minha mulher, e que música um dos personagens canta? A tal da Sweet Caroline. Só para não deixar sair da cabeça! Tudo bem. Eu realmente gosto dela. Para quem está curioso em saber que seriado é esse, trata-se de um seriado teen chamado Glee (que tem seu lado positivo, para minha surpresa), mas deste eu falarei futuramente.
Sabe aquelas coisas que são tão corriqueiras a ponto de não nos despertarem a curiosidade de como surgem, de onde vêm, de que são feitas? Pois devo dizer que a música é uma delas. Se você acha que reflete sobre a música só porque parou para entender a letra, se identificou ou ela te sensibilizou, saiba que há mais por trás disso.
O primeiro elemento da música, não consigo pensar diferente, é a inspiração. É onde tudo começa. Muitas vezes ouço músicas belíssimas e me pego perguntando: “Puxa, de onde esse cara tirou essa idéia?”. Claro que isso não é tudo para que a música seja boa, mas, como disse, é o primeiro passo. E, vale lembrar, estou falando das músicas sinceras que, garanto, são as melhores que já ouvimos.
Temos músicas que falam sobre tudo! Desde metafísica, até poemas, até o dia-a-dia. Se podemos falar de tudo, porque os músicos não estão compondo a todo o momento? Porque de nada adianta ter assunto a falar se a inspiração não fermenta a forma de expressão. Querem um exemplo? Ouça “Formato Mínimo”, do Skank. É uma das músicas com assunto mais mundano que conheço... e ao mesmo tempo, uma das mais poéticas letras que já ouvi. Não há como negar que a inspiração foi fundamental para que a música nascesse daquela forma e, sem ela, talvez fosse só uma música qualquer, sem destaque, sem brilho, sem alma.
Já observei o excesso da inspiração, por exemplo, em momentos finais do saudoso Cazuza, quando promoveu a avalanche de produção musical, claro, já ciente que seriam suas últimas obras. Foi um grande trabalho, mas o problema desse excesso é que as músicas ficam muito parecidas, afinal, são meio que da mesma onda de inspiração. E o que seria do músico na falta de inspiração? É uma das coisas mais angustiantes que pode acontecer. Nem vou entrar no mérito daqueles que têm contrato a cumprir, porque é outra história, mas a inspiração, dramática por natureza, causa o sentimento de solidão na sua ausência e, mais que isso, deixa a incerteza se vai voltar ou não. E volta, triunfalmente. São como ondas do mar. Cedo ou tarde volta.
É esquisito falar de algo tão abstrato e pessoal, mas o que me motivou a refletir sobre a inspiração foi justamente a percepção de que estava em um momento de ausência dela. Como seria escrever sem inspiração? Qual seria o resultado disso? Essas eu vou deixar para vocês responderem.
Inspiração, emoção, motivação. Boa semana a todos nós!
Hoje vou comentar sobre o EMA 2010. Para quem não sabe essa premiação é a MTV Europe Music Awards, semelhante ao VMA e VMB. Ocorreu ontem em Madri. Na verdade, para quem assistiu ao VMA 2010, não houve tantas surpresas. Não vou refazer as críticas que fiz quando falei do VMA (se você não leu o post na época, confira clicando aqui), até mesmo para não ser repetitivo.
A grande vencedora, tal qual no prêmio americano, foi Lady Gaga, com 3 prêmios (artista feminina, POP, e melhor música por Bad Romance). As categorias são um pouco diferentes do que o VMA e em menor número também e creio que só por isso Gaga teve apenas 3 vitórias. Ela foi a única que ganhou mais de um prêmio. Nesse ponto acho até legal. Como ouvinte ou telespectador (ou qualquer coisa do tipo) é legal ver as premiações bem dividas mesmo sabendo, claro, que para o artista quanto mais, melhor.
Vou discordar da escolha do melhor artista masculino, que foi Justin Bieber, por motivos totalmente particulares e restritos (confesso!): não engulo esse garoto! Não há Cristo que me convença que ele pode ganhar um prêmio de MELHOR artista! Desculpem-me, mas jamais apoiarei isso. Enfim, eu sei que não teria como ser diferente pelo ano que foi. E se formos considerar o senso comum e os guias da mídia, ele teve destaque mesmo. Putz. Próximo!
Paramore (Foto: MTV)
Eminem ganhou como artista Hip Hop. No VMA levou o melhor vídeo de Hip Hop, então, acho que foi equivalente. Ok. Que seja. Não sou fã de Hip Hop, mas sei que ele faz bem o que se propõe a fazer. Pula!
Gostei da premiação do Paramore, que ganhou como artista alternativo. Na verdade mesmo eu gostei de terem ganhado alguma coisa porque a banda é boa, a garota tem talento e o estilo deles é legal. Conseguiram sair pela tangente do estilo “teen manjado” de hoje em dia. Só tenho que falar uma coisa: a banda pode cheirar à, mas não é alternativa. Ainda assim, bom prêmio e o nome dele, inclusive, é bem rock e tenho certeza que essa idéia agrada aos seus vencedores.
Bon Jovi (Foto: Reuters)
Katy Perry ganhou o que poderia ganhar mesmo: melhor clipe, por California Gurls. É realmente bom, embora a música não seja das melhores. De qualquer forma, merecido. Não entendi o prêmio de Ícone Global para Bon Jovi, mas tudo bem. Fora isso os ganhadores também foram: 30 Seconds to Mars (artista rock, de novo), Kesha (artista revelação), Marco Mengoni (artista europeu), Linking Park (melhor show), Tokyo Hotel (apresentação em palco), Shakira (prêmio “free your mind”). O prêmio de Shakira foi por suas ações humanitárias. Bem legal, mas longe de ser reconhecimento musical.
Posso concluir, então, dizendo que gostei de Lady Gaga ser a vencedora. É indiscutível que foi a artista do ano, realmente. Além disso, parabenizo o Paramore também! Gostei. E respiro um pouco aliviado pelo prêmio revelação não ter ido para Justin Bieber. Temi por isso. Deixa a tal da Kesha ser feliz. Menos mal. E deixa Lady Gaga como única a ganhar mais de uma vez. Menos mal, também.
Não vou encerrar com o vídeo da grande vencedora por já ter feito isso no post do VMA, não por desmerecer, ok? Vou aproveitar, então, para homenagear a banda Paramore:
De todas as coisas que não podemos explicar, uma das mais intrigantes no meio artístico é o fã. Difícil entender o que se passa na cabeça dos fãs. E enquanto fã, é difícil explicar o motivo de eu o ser também. Alguns motivos eu tenho, outros me vejo obrigado a responder: “eu gosto e pronto”.
Aí fico lendo as notícias de pessoas que ficam dias e dias numa fila de ingresso para garantir a ida a um show do seu grande ídolo e penso: “mas por que alguém se sujeita a isso para ver de longe um cantor, sabendo que não terá contato nenhum com ele e que o mesmo nem sabe da sua existência? ". Não sei se algum psicólogo da vida já estudou isso, mas é um comportamento intrigante... e esquisito.
Já passei por algo parecido, em 2005, quando visitei o Rio pela primeira vez, vindo para assistir ao show do Pearl Jam. Na verdade eu nem era tão fã deles na época, mas minha esposa era. Por um acaso do destino não pegamos fila e entramos antes de qualquer outra pessoa no local do show (futuramente conto essa história em detalhes). Em compensação esperamos horas e horas e horas para assisti-lo. E quando os portões abriram para todos foi como abrir o portão do inferno! Ficamos de 15h00 até 21h00 espremidos entre montanhas de pessoas, literalmente sem se mexer até o show começar! Vou dizer que só valeu a pena porque estávamos na primeira fileira. Prometi que nunca mais faria isso! Quer saber? Hoje, passados 5 anos, até que eu faria de novo!
Essa relação misteriosa entre ídolos e fãs se sustenta num ponto: distância. O fã quer chegar perto, conhecer, conversar, casar (ao mais exagerado ou exagerada) e o fator “impossibilidade” alimenta isso e mantém o encanto vivo. A verdade é que se conhecesse, desencantaria; descobriria o quão comum o ídolo é. Talvez até se sentisse um idiota por fazer o que faz. De repente, é melhor deixar tudo como está. Tem coisas que são feitas para não se conhecer. Assim, o ídolo fica contente, no seu espaço, e o fã continua encantado criando razões para admiração que, no final das contas, se tratando de arte, pode ter motivos abstratos sem o menor compromisso. E posso dizer que essa relação ídolo-fã compõe a arte, como se fosse o último acorde da música, a última palavra da letra, o último suspiro da melodia.
Lembro que, certa vez, entrei numa loja, então chamada Mesbla, despretensiosamente e me deparei com um banner divulgando liquidação de cd. Era o último suspiro da loja. Era uma oportunidade imperdível. Lá comprei um cd de Raul Seixas, um dos meus artistas favoritos, que há muito procurava. Que sorte! Lembro ainda de ler em bancas revistas como Rolling Stone (ou outra similar) junto com amigos para saber as novidades do meio musical; comprar revistas de cifras de música para aprender a tocar as músicas famosas. Nem faz tanto tempo assim.
Lá para o segundo grau ou início da faculdade começavam a surgir as bandas independentes numa pretensão de gravar cd, bater de porta em porta nos lugares, tentar vender uns 2000 CDs para, quem sabe, com enorme insistência ganhar um segundo de atenção de algum produtor e quem sabe uma vaguinha na tão sonhada indústria fonográfica.
(Foto: Getty Images)
Vi nascer, então, o advento mais democrático (e perigoso) que podia imaginar: divulgação via internet. Não sei se estou enganado, mas foram espaços como o Trama Virtual que deram a faísca para o que veio a ser a autonomia das bandas independentes. Sei que artistas como o Lobão foram pioneiros em se sustentar de forma independente, mas o que veio a seguir foi ainda maior: a mudança na forma de fazer música. Aí veio a MP3, os programas de compartilhamento de arquivos (quem não se lembra do Napster??) e tudo ficou mais fácil. Os músicos continuavam a gravar os seus CDs. Confesso que, daquelas bandas preferidas, eu ainda assim fazia questão de comprá-los. A indústria fonográfica foi caindo, a pirataria ficou mais acessível... mas isso não foi tudo.
O processo de mudança de produção de música estava apenas começando. Após o compartilhamento de MP3, vivenciamos o “fenômeno Youtube”. Agora, além de facilidade de acesso às músicas, os vídeos entravam na mesma panela. Era o fim do velho modelo (embora a indústria não dê o braço a torcer até hoje). A meta das bandas novas agora, diferente da minha época, não é mais gravar um cd, não é mais ensaiar para tocar nas pequenas e alternativas casas de show da cidade... agora é dedicar-se a produzir um bom vídeo e divulgar nos tantos sites de relacionamento que existem, blogs, fotoblogs, twitter... tantas ferramentas!
(Foto: Getty Images)
Malu Magalhães, a menina prodígio como disseram, lançou-se assim. Na real acho que todas essas bandas da geração atual o fizeram também. E a ordem da produção inverteu: agora a banda primeiro faz sucesso, primeiro vira grande para depois gravar um cd. E isso ainda é conservadorismo porque, a meu ver, nem é mais necessário. Hoje é mais fácil ouvir o que se quer, conhecer bandas diferentes, integrar as mídias. E é tão mais fácil também de colocar-se em evidência para um número, antes, inimaginável de pessoas. E com isso os parâmetros de qualidade foram para o saco junto com a indústria fonográfica. Eles ainda existem, mas é tanta gente aparecendo, e é tão prático, que ter conteúdo já não é mais um fator essencial. Ter talento já não é mais um fator tão importante (embora seja sempre admirado). A criatividade aumentou o passe em 1000%, mas o do talento caiu na mesma proporção.
Falemos, enfim, do perigo disso tudo: a criatividade é um momento; o talento é uma constância. Aparecer na janela da fama ficou mais fácil; com uma atitude criativa, é possível (ao menos bem mais do que antigamente). Porém, sem o talento para sustentar, a próxima atitude criativa vinda de outra parte qualquer, vai desviar o olhar de todos de novo. E assim está a mídia da música de hoje: desviando o olhar a todo momento a cada “explosão” criativa que alguém dá na internet. Tão mais fácil de aparecer, tão mais difícil de manter. E agora devo concluir que, ao contrário do que falei no início do texto, isso não é um advento democrático, mas uma ilusão disso.
(Foto: Getty Images)
Como um perseguidor do saldo positivo, devo falar que, apesar disso tudo, o lado bom da “nova ordem musical” é de fato dar chance a mais pessoas divulgarem o seu trabalho para outras tantas pessoas. Só gostaria que as bandas realmente boas fossem as beneficiadas desse movimento. E talvez a culpa da falta de qualidade do nosso mainstream musical seja nossa, os ouvintes. Nós precisamos estabelecer os critérios agora, e não mais os produtores musicais. Valorizemos, então, a boa música, a boa letra, o talento. Vamos, sim, dar espaço às bandas independentes, mas as boas, as que merecem!
Por que escrevi isso justamente no Dia de Finados? Esta eu não responder; fica subentendido. Foi um texto deveras extenso, mas não havia como ser diferente pelo tema que é. Obrigado pela atenção. E tenho dito.
Se tem uma característica que é inata do ser humano é o eterno querer. As vontades, os desejos, os anseios. Estamos sempre querendo alguma coisa nova. Às vezes, queremos tanto e quando conseguimos, não nos interessa mais. Às vezes queremos uma mesma coisa diversas vezes durante a vida. Estranho, não?
Particularmente, gosto do querer e acho uma das coisas mais motivadoras que podemos ter. É um excelente combustível. Imagino o quão chato seria a minha vida se em um determinado momento eu visse que nada mais teria a conquistar! E ao mesmo tempo, como eu queria já ter conquistado tudo aquilo que anseio hoje! Talvez outra característica inerente do ser humano seja a contradição emocional. E é no momento em que essas duas características se juntam, que se forma o looping dos desejos.
O looping que estou chamando pode ser ilustrado. Vamos lá: adolescência: formação de personalidade e idéias; confronto ideológico com os pais... o que desejamos: ser logo adultos. Adultos: começo de vida, administrar o pouco dinheiro... qual o novo desejo? Estar na fase mais madura, estável. E depois disso tudo, quando chega esse momento que tanto queríamos quando jovens não há nada que desejemos mais do que... voltar a ser jovem, época em que não havia problemas financeiros, não havia responsabilidades complexas, etc, etc, etc.
É importante manter as vontades vivas sempre. É importante ter o que querer. Isso é sinal de que há otimismo. Esperança. Vida. Para evitar o looping, então, só há uma maneira, uma tentativa: aproveitar todos os momentos. Curtir cada segundo do desejo e do que está fazendo para conseguir vencer. Carpe Diem foi um grande conceito criado. E, particularmente de novo, vejo-me concordando com Jim Morrison diversas vezes: “acredito no excesso”.
Para quem se assustou, o excesso só é ruim se o seu objeto o for. Caso contrário, quem não quer excesso de coisas boas?
Já falei das mentiras coletivas em outro texto (se não leu, veja o link: http://ootboxx.blogspot.com/2010/09/das-mentiras-coletivas.html); pois hoje falarei das mentiras individuais. Na verdade poderia até completar o título acrescentando ao final: “e bobas”. São aquelas mentiras que todos soltamos durante o dia e das quais alguns psicólogos julgam ser necessárias para manter a sociedade coesa. Devo dizer que há controvérsias disso, ao menos, da minha parte. O que faz uma pessoa aceitar ou não a verdade é a noção de respeito, individualidade e autocrítica. Numa sociedade onde os valores disso fossem bem desenvolvidos e sólidos, ninguém se preocuparia tanto com o “terror” da franqueza.
Existem aquelas mentiras que dizemos por preservação da intimidade. Exemplo: chega um conhecido (não amigo) e faz a clássica pergunta cordial: “tudo bem?”. Você está em um dia de cão, a vida está uma merda, mas o que responde? “Tudo. E você?”. Claro! Você não está bem, mas se disser isso a pessoa vai perguntar o porquê e aí você terá que contar sua vida para ela e, diabos, você não quer contar sua vida para aquela intrusa! Então, é melhor dizer que está tudo bem. E quer saber? Aposto que o interlocutor agradece imensamente pela sua opção. Imaginemos o oposto: o cara pergunta “tudo bem?” e você decide falar a verdade. O outro pensa: “Putz! Para que fui perguntar? E eu com isso?”.
Bom, isso é cordialidade. Se não sabia, saiba à partir de agora que o significado não-declarado de cordialidade é falsidade do bom samaritano. Além disso tem aquelas pequenas mentiras que falamos para manter as aparências, como o pneu do carro que fura e causa o seu atraso no trabalho (ao invés de você ter ignorado o despertador); aquelas que falamos para não magoar alguém, como o elogio à roupa da colega (que mais parece o figurino do Tiririca); aquelas que falamos para evitar explicações, tipo a desculpa de enxaqueca para faltar a um convite insistente de festa (que seria um pé no saco, mas dizer que não está afim simplesmente não convence e leva a um belo diálogo lenga-lenga). Poderia escrever um livro inteiro citando as diversas mentiras individuais, mas tudo gira em torno de algo parecido com o que falei.
Se pensa que isso é fruto da política da boa convivência, esqueça. Só agimos assim porque construímos nossa sociedade com a ideia de que temos que manter as aparências (e aparência de sermos perfeitos) e agradar a todos (ou ao máximo possível). E aí percebemos que o caminho leva para as mentiras coletivas.
Ninguém tem que agradar ninguém. Ninguém tem que ser perfeito. A busca da perfeição, sim, é uma grande mentira! Conselho do dia, então: seja você mesmo. Crie os seus valores, a sua percepção, a sua vontade. A dos outros, já vemos todos os dias. Qual é a graça? Futuramente falarei sobre a pior das mentiras: a interna.
Para dar leveza, encerro ao som de Rogério Skylab:
Discussões sobre os altos e baixos do rock nacional são uma constante por onde ando. E cada um puxa a brasa para a sua geração e a discussão não termina. Particularmente, gosto da minha geração quanto ao cenário musical (80/90). Acho que foi quando se consolidou o conceito pop do rock, embora cultura pop seja algo que sempre houve, pelo seu próprio conceito. Aí começaram a definir pop-rock como um estilo musical (o que eu não acho muito legal). Enfim, nessa época estamos falando de Lulu, Cássia Eller, Cazuza, Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Plebe Rude, Biquíni Cavadão... essa turma que é considerada a era de ouro no nosso rock, o brasileiro.
Não vou falar deles dessa vez, vou retroceder um pouco e valorizar uma década onde o rock tinha uma cara diferente e, embora eu não tenha vivido isso, foi extremamente forte e rico: anos 70. E, aliás, vou fazer mais do que isso; vou falar do que foi o rock dos 70 aqui no Brasil.
Os Mutantes (Foto: blog Naftalina)
Se perguntar sobre os anos 70 no Brasil, 80% das pessoas vai saber citar Os Mutantes, Raul Seixas, Camisa de Vênus, Secos e Molhados e terá dificuldades de continuar depois disso. Sou fã de Raul (quem me conhece sabe), gosto muito de Camisa de Vênus e gosto dos Mutantes e Secos e Molhados também, mas hoje quero citar outras bandas que fizeram história por aqui e, às vezes, esquecemos de falar.
Na verdade, os anos 70 foram quando o rock nacional começou a criar a sua cara, imprimir seu estilo. Acho que, não querendo menosprezar ninguém, Os Mutantes influenciaram muito isso e inspiraram uma série de bandas que chegaram com um rock mais eclético, misturando tendências visceral, psicodélico e até mesmo, progressivo (para quem achava que isso era exclusividade dos ingleses).
O Terço (Foto: blog Era uma vez na estrada)
O Terço foi uma dessas bandas. Ouçam Criaturas da noite e verão o misto de progressivo com erudito (aquela melodia mais prolongada, uso de vocais em altos tons, piano explorado). Aí podemos ouvir Não fique triste, da banda O Peso: influências de folk, progressivo e vocal que ameaça rabiscar um metal (algo parecido com Robert Plant, em tempos áureos do Led Zeppelin). Arnaldo e Patrulha do Espaço, em Cortar Jaca, começa com um som discreto de piano e se transforma num rock experimental do melhor estilo, inclusive na letra cheia de ilustrações; variando ritmos, explorando solos de guitarra e piano também, mostrando a herança dos 50. Muito bom! Depois, podemos ouvir Juriti Butterfly, de Sá, Rodrix e Guarabira. Essa música já traz uma pegada de clássico, progressivo e, no encerramento, ameaça um baião (sério!). A banda Som Imaginário tinha guitarras de rock estilo 70, mas já começava a lançar as bases melódicas do que se tornaria o pop dos 80. A combinação ficou boa também.
Ouvindo Raul Seixas, Os Mutantes e Secos e Molhados dá, sim, para ter noção do cenário rock dos 70 aqui no Brasil, já que foram os destaques da época, mas vale a pena conferir essas outras bandas que citei e que estiveram lá também. Todas elas têm particularidades muito boas no seu som e merecem reconhecimento! Se pudesse colocaria todas as músicas que citei, mas aí estenderia demais o post. Vou colocar uma das que mais gostei:
A banda de hoje foi formada em 2009, é de Sorocaba, SP, mas nem tem cara de banda que está começando e nem parece rock nacional (não o que estamos acostumados a ouvir). Esta eu conheci, mais uma vez, no My Space. O nome é Sex Enough.
Sex Enough, das bandas nacionais que já ouvi, é uma das que mais grita (eu disse: grita) em diferencial do que costumamos ouvir por aqui. Quando escutei pela primeira vez, achei que estava ouvindo mais uma boa banda de fora, mas enganei-me. Foi uma surpresa muito boa, pois uma das coisas que mais me intrigava era porque o rock nacional era tão diferente instrumentalmente dos rocks internacionais, parecendo haver uma barreira inquebrável. Talvez a exceção seja o rock mais pesado, onde essa diferença é consideravelmente menor.
Parênteses: não estou falando mal do rock nacional, nem exaltando o internacional em demasia. Nada disso. Gosto das particularidades do rock nacional, sou fã de várias bandas daqui. Meu próprio som é tipicamente nacional. Só que gosto também do rock internacional e apenas me perguntava por que não se via aspectos de um no outro. Ver uma banda misturando isso foi uma grande (e boa) surpresa! Gosto de ser surpreendido de qualquer maneira, se tratando de rock. Acho que o quesito deles foi essa possibilidade tão próxima de comparação.
(Foto: MySpace, perfil Sex Enough)
Voltando a banda, Sex Enough canta em inglês. Se isso for problema para alguém (lembro que houve época disso pegar bem e lá para os anos 90 começou a ser superdiscriminado), vou dar minha opinião: não sou nada contra, desde que esteja de acordo com os objetivos da banda e sua identidade. Todas as músicas que ouvi deles são cantadas em inglês. Só que devo dizer: o que me remeteu a comparação do rock internacional não foi isso; a qualidade instrumental e o estilo de toque das guitarras, sim. E que guitarras! E que ritmo! Volto a dizer, foi diferente ver uma banda com esse estilo e que, ao mesmo tempo, conseguem imprimir identidade própria nas músicas, pois não estão imitando ninguém, mas, sim, nivelando com a qualidade do mesmo estilo. Quem curte rock internacional, vai se sentir em casa e valorizar o rock nacional. Quem curte este, vai ter uma boa surpresa e influência.
De todas as músicas que ouvi, tive como prediletas Blessed Night e Expectatives. A primeira pelo destaque nos vocais (estão ótimos!), pelas frases de guitarra, contendo influências de metal e leve toque de blues em conjunto, pela bateria forte e por usar um recurso que gosto: mudança de ritmo durante a música. A segunda, por ser um ritmo bem diferente das demais, o que mostrou a versatilidade da banda e, mais uma vez, pelas guitarras, só que agora começam simples e vão evoluindo durante a música de forma clara. Isso foi bem criativo! Ainda está para vir outra música, inédita, da Sex Enough que tive o prazer de ouvir, também muito boa! Agradeço a banda por ter me enviado em primeira mão e tenho certeza que o pessoal vai curtir quando divulgar oficialmente. Aguardem!
Parabéns, Sex Enough, por oferecer um rock diferente, um rock forte, um rock que só acrescenta na riqueza e variedade musical que nosso país tem! O show de vocês deve ser excelente! Recomendo o seu som!
Resgatando o Rock é falar de música boa, de rock de verdade, de bandas que deveriam ser os ídolos dessa geração. Aproveito para falar a quem toca, tem banda, está na pista produzindo o melhor do rock... manda o seu link, seu material, seu perfil em sites de relacionamento, ou o que quer que seja, para mim que ajudo a divulgar aqui pelo blog, nos próximos Resgatando o Rock.
Este ano um dos mais marcantes filmes da minha infância completa 25 anos. “Saudosista confesso” que sou, não poderia deixar de falar dele: Back to the Future, ou De volta para o futuro como, em raros momentos de lucidez, nossos tradutores respeitaram o título original.
Vou começar esclarecendo um breve rumor que se formou em torno disso: disseram que a comemoração dos 25 anos do filme está sendo feita agora em Outubro por ser o mês de lançamento dele na época. Isso não é verdade. Na realidade, Outubro é o mês em que, no filme, o personagem Marty McFly se encontra com o Dr. Brown para, então, fazer sua primeira viagem na De Lorean (o carro-máquina do tempo). A data foi 26 de Outubro de 1985, quando McFly, fugindo dos terroristas que atiraram no Doc Brown, viaja até a data de 05 de Novembro de 1955. A data de lançamento de Back to the future foi 03 de Julho de 1985 nos Estados Unidos e 29 de Dezembro do mesmo ano aqui no Brasil. De qualquer forma, a idéia de comemorar no dia da viagem no filme foi boa!
Vou falar sem medo de errar que a trilogia de Back to the future é uma das melhores que conheço. Aquela que conseguiu misturar ficção com comédia sem ser pastelão! Aquela que lançou muitas das “geringonças” que usamos hoje em dia (dá uma olhada na TV tela plana que temos hoje)! Aquela que mais cenas marcantes (que todo mundo que viu, lembra até hoje) tem! Enfim, aquela que eu nunca enjoo de ver. Pode passar quantas vezes forem na TV que eu assistirei todas! Quem curtiu essa época que me apoie!
Hoje em dia é mole entender, mas como bagunçava a minha cabeça na época e eu via-me obrigado a recorrer ao meu irmão (que é 3 anos mais velho) para me explicar o que diabos estava acontecendo! Como não se lembrar do contexto caricato em que McFLy se metia com Biff, sua mãe Lorraine, seu pai George, em confusões de universo “teen anos 50” em meio a um assunto tão sério que era salvar o futuro (na verdade, o presente de Marty)? E como ele quase arruinava tudo simplesmente porque Biff o chamava “chicken”! A cena dele chegando aos diversos tempos, sempre desmaiando e, ao acordar, achando ter sido um sonho e falando com a sua mãe... e isso virou simbólico e não repetitivo! Só Back to the future conseguiu esse feito!
Admito, apesar de curtir a trilogia toda, tenho no segundo, o meu favorito. Talvez por ter mais viagens, ou talvez por ter explorado mais a interpretação dos atores... não sei dizer. Depois, fico com o primeiro e, por fim, o último. Acho que vou até assistir eles hoje!
Michael J. Fox refez o teaser do Back to the future. Este teaser, ao menos que eu lembre, não foi veiculado no Brasil. Para quem quiser ver os dois (o original e o novo), assistam:
Peço desculpas pelo post extenso, mas essa trilogia merece! Muito boa! E encerro com uma brincadeira feita pelo Tom Wilson (era o Biff; é ator ainda hoje, mas também comediante de stand up) em uma música falando do "pós-back to the future.